terça-feira, 27 de julho de 2010

mergulho

de repente ela me olha no meio da hidroginásica e me pergunta:
- por que tu vens todos os dias? quer perder peso?
- sim, quero perder tudo que dá.
- ela continua: eu também. eu faço porque já tenho idade e tô deste tamanho. tenho pavor de pensar que quando morrer não vou entrar no caixão. imagina. fico pensando se vão me cortar no meio e usar dois caixões.
- eu deixei escapar: crédo!
- ela convicta: por acaso tu achas que não vais morrer?
- claro que eu vou, até penso nisto, mas não me fixo no caixão.
- ela não dá trégua: é porque tu AINDA cabes no caixão. e olha, vamos parar de conversa e vamos retomar o ritmo!
eu tô até agora retomando os meus motivos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

dias de férias

vou ter uns poucos dias de férias.

não tenho planos de viagens ou grandes feitos.
meus planos são simples simples simples e me fazem extremamente feliz:

acordar sem despertador, tomar chá no meio da tarde, nadar na piscina térmica do clube, alguns filmes, reler alguns trechos, conversar com a minha mãe, caminhar no sol, testar alguma receita.

minha felicidade sempre é feita de coisas pequenas.
ter tempo para as coisas que gosto sem ficar de olho no relógio é meu infinito particular.

terça-feira, 13 de julho de 2010

produzido na Oficina Literária da Laura

O Papagaio Alemão

Ela foi uma criança adulta e diferente das outras, não nasceu sozinha. Antes dela ser invadida pelo mundo, nasceu seu irmão gêmeo. Para o pai, cada um era miúdo como um saquinho de leite. Ele cresceu malandro e ela séria, para não dizer brava.
Não se sabe qual a primeira palavra dita por eles, mas o primeiro verbo foi "dividir". Nos aniversários, os dois sopravam com tanta fúria a vela do bolo para ver quem a apagava de fato que um dia a mesa comprida da festa veio abaixo. O pai dividia os chocolates com a régua. Contavam as lajotas na hora de varrer a garagem, a sujeira amontoada na lajota ímpar. Mas, ímpar mesmo foi a idéia da mãe: dividir uma caixa de lápis de cor. A menina ficou um ano letivo inteiro sem desenhar o sol. E ele perdeu todos os lápis que lhe couberam.

Mas, houve um dia em que saíram da gaiola do egoísmo: juntos pegaram (com um alçapão), nos fundos da casa, um papagaio. Dividiram a alegria sem régua.
Passaram a tarde falando com o pássaro, que não deu asas à alegria deles. Cantaram desde "Atirei o pau no gato", até as músicas do "Balão Mágico".

- Será que ele é surdo?
- Pode ser que é mudo.
- Acho que ele não fala porque a gente não fica quieto. Não dá tempo, coitado!
Ficaram quietos por uns instantes.
- Ele insistia: "Rico", "Quer café?".
- Ela embravecia: se é para dizer bobagem melhor que seja mudo.

O pai chegou em casa e as crianças voaram para mostrar o seu tesouro.

O pai e a mãe tentaram e a menina enfurecida já pensava em cutucar o bicho com o garfo. Se não falasse por bem que gritasse de medo.

A noite veio e o sonho ainda não se enjaulava, as crianças espiavam a cada pouco o bicho na gaiola.

De manhã cedo, o pai reclamou alguma coisa em alemão. Foi como se a língua do bicho criasse asas. Nunca mais calou a bico. Mas, as crianças não compreenderam nada.

Muito satisfeito, o pai disse: - E ainda por cima ele sabe falar alemão!
- É mesmo, tu só podia ter pego um bicho torto. Disse a menina ao irmão.
- Ao menos ele fala, respondeu o menino.
- É, fala, mas não com a gente.

Não seria a primeira vez que a menina sentiria o mundo amputado de suas entranhas. Era a segunda vez que sabia a cor do sol, mas lhe faltava o amarelo.

Não demorou muito para o papagaio começar a berrar pelo "Zeca", que um dia apareceu e junto com ele bateu asas.

Desde cedo a menina aprendeu que as ironias da vida eram piores que os castigos do pai.

domingo, 11 de julho de 2010

das nomenclaturas

aos meus ouvidos (e também musicalmente falando) o termo "sertanejo universitário" soa como "desmatamento ecológico".

mas, como disse Carpinejar: a verdade não existe. o que existe é uma versão convincente.

terça-feira, 6 de julho de 2010

vida doméstica

não, não abandonei o blog.
ainda não.
ando perdida dentro de casa: domesticamente falando eu sou um freio de mão puxado.
uma pia de louça me custa horas, fazer um bolo me toma uma noite, no supermercado eu só tenho vontade de ir logo embora.

e me deixam engasgada estas palavras que nunca param de vir... e eu tão sem tempo de libertá-las. uma prisão!

e não, não passa.
sempre tem mais louça, mais roupa e a comida da geladeira acaba.
e eu também, me acabo.