quarta-feira, 21 de abril de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

da série: só pra constar

eu nunca imaginei que eu precisasse TANTO de uma mulher para viver.
faz só duas semanas que a senhora que me ajuda a limpar a casa adoeceu e eu já pensei até em suicídio.

eu me agilizo bem em tanta coisa, mas faxina e supermercado são os meus pontos fracos.
os pontos fortes eu juro que ainda descubro para postar aqui.

personagens criados no sótão

ele e eu

ele carrega mandolates no bolso
tenho os bolsos vazios para ter onde colocar as mãos.

ele come doces
eu conto as calorias.

ele tem fome das coisas que já sonhei
a minha fome faz morada no estômago.

ele tem uma caneta igual a minha
ele vive
eu escrevo.

ele anda de carona com o pai
eu começo a pegar carona comigo mesma.

ele mora numa cidade que pelo nome deveria brilhar
eu moro numa província que me apaga.

ele faz teatro
eu acho graça das cenas da vida.

ela pensou que eu fosse jornalista
eu nunca sei dos fatos, sempre me perco nos detalhes.

ele escreveu que me encontra numa parada de ônibus.
ele parte
eu me reparto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

da série: se eu soubesse

ah, se eu soubesse fazer com as mãos o que eu faço com as vírgulas... eu nem precisaria fugir pelas palavras!

o respirador de pó

a senhora que me ajuda com as lides domésticas ficou doente.
de uma para outra a pia encheu, o lixo transbordou, o vaso do banheiro cheirou, as roupas sumiram do guarda-roupa e a comida acabou.
eu que nunca consegui matar uma barata, sem querer suguei uma com o aspirador de pó.
de acordo com as minhas teorias malucas, a barata poderia sobreviver e se reproduzir dentro do meu aspirador.
então, desmontei o bicho, que respirou pó por toda a casa.

o pior da vida real é que ela pode ficar pior. sempre!
a minha falta de vocação doméstica é o pecado que mais me consome.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lá do blog da Fal

Eu choro, sabe, eu choro porque a dor não me deixa respirar e mesmo assim eu respiro fundo e solto o ar em oito tempos, como nos exercícios da aula de canto, enquanto bato claras em neve e meço a quantidade de leite para o suflê, enquanto ralo o queijo ou penduro a roupa no varal, enquanto misturo as tintas, enquanto lavo os pincéis. Choro porque sou impotente, porque tudo posso. Eu choro quase sempre, quase o tempo todo, porque o humano que há em mim se atira do parapeito e não há volta. Mas eu volto, todas as vezes. Todos os dias.

http://www.dropsdafal.blogbrasil.com/

Dias Santos

houve uma época(remota) na qual a sexta-feira santa era santa.

foi nesta época em que questionei pela primeira vez a bondade de deus.
como podia haver um dia sem aula e ao mesmo tempo sem biclicleta, brincadeiras e sanduíche de mortadela?!?

Incontrolável



Eu amo e odeio as coisas que não controlo.
Amo porque me sinto viva.
Odeio porque a culpa cristã e a educação alemã fazem parte dos meus fantasmas.

No meu lado B consta uma indiscrição incontrolável.
Mais forte que eu.
A qual eu sirvo sempre.

Não posso ver alguém lendo um livro. Preciso saber o título.

Se alguma coisa chama a minha atenção, o meu olho gruda. Mergulho e não volto mais.
(Às vezes até escuto o "pára de olhar" da minha mãe. Mas, daí meu olho já virou chiclé...)
(Nunca me diga: "não olha agora". Se disser eu saco os óculos na mesma hora!)

E aquelas pessoas que te confessam um absurdo esperando um apoio?
Aquela expressão de "peloamordedeuscriatura" fica ali estampada na minha cara.
Eu me esforço.
Eu digo alguma coisa para despistar. Mas, em segundos a pessoa já está se justificando sem parar e eu sei que a minha cara tá berrando as coisas que eu não deveria dizer.

Eu nunca deveria dispensar os óculos escuros.
Mas, eu tenho miopia.

Eu queria saber pensar em voz baixa.
Ninguém pode imaginar o quanto se sente nua uma pessoa indiscreta.