terça-feira, 24 de junho de 2008

o milagre do filme

desde sempre eu corri atrás daquilo que nunca se deixa capturar: a mágica da vida.
eu nunca gostei e algodão doce, mas sempre precisava conferir como o açúcar tomava a forma de nuvem.
sempre tentei achar a cortina da chuva, o local exato onde ela terminava ou começava.
nunca deixei de ficar atenta para a primeira estrela do céu.
inúmeros finais de tarde tentei escutar o chiado do sol mergulhando no mar.
de tanto colocar meus pés atrás daquilo que necessitava de asas eu me
perdi ou me achei naquilo que muitos chamam de arte.
com a literatura do isma foi mais além por ser mais aquém, a confissão dos pecados dele simplesmente absorveu os meus, sem necessitar se quer de absolvição.
cada vez que eu pensava nas palavras dele sendo paridas em imagens eu via a mim mesma castigando os pés para alcançar aquilo que precisava de asas.
para mim, o menino de verdade já existia e gepeto ou a fada azul não
poderiam ir além do que suas pernas de metáforas e suas lágrimas de vírgula já alcançavam.
mas, isto até eu emergir ou imergir na/da barriga da baleia (como o pinóquio) e entender (finalmente) um tanto da mágica da vida.
depois de tanto calejar os pés atrás daqueles instantes mágicos que eu nunca soube capturar de fato, as pessoas todas que fazem o filme
nascer me deram carona nas suas asas.
já de cara, no figurino, eu encontrei as gurias, que nas roupas tantas que dominam e pelas quais são dominadas, grudam a alma do personagem em nossa pele.
como se eu fosse diane arbus conseguindo fotografar e se nutrir da mágica dos instantes, que nunca tiveram truques.
aí, chega ele (que eu só lembro que tem sobrenome lindo) e se chama marcelo (uma vez eu li que todo marcelo além de se ser habitado pelo mar, tem um menino lindo por baixo). ele traz nas mãos "sapo amarelo" para presentear alguém. nada mais menino nesta ponta de terra fria que quintana.
depois, eu vi todos (de perto e de muito longe como eu sempre faço) almoçando. e soube que eles todos podem mais que gepeto e que a fada azul, eles são a alma do filme, prontos a parir com suas próprias entranhas cada personagem.
eles são a tradução do instante em que o açúcar toma forma de nuvem.
eles são o chiado do sol mergulhando no mar.
eles são a cortina da chuva.
sem truque maior que o brilho no olhar. ou paixão que se traduz no detalhe.
as asas que eu nem tento mais compreender porque tudo que a gente não alcança será nosso para sempre.
e não, eu não mais temi pelas imagens todas que se tornarão o filme baseado naquele livro quase pesado que aliviou a minha existência.
simplesmente porque o filme está ali. pronto.
mais uma vez me mostrando que ser absorvida é divinamente melhor que qualquer absolvição.
amém.

domingo, 15 de junho de 2008

Pato Fu (domingo com sol)

Olha, não sou daqui
me diga onde estou
Não há tempo não há nada
Que me faça ser quem sou
Mas sem parar pra pensar
Sigo estradas, sigo pistas pra me achar
Nunca sei o que se passa
Com as manias do lugar
Porque sempre parto antes que comece a gostar
De ser igual, qualquer um
Me sentir mais uma peça no final
Cometendo um erro bobo, decimal
Na verdade continuo sob a mesma condição
Distraindo a verdade, enganando o coração
Pelas minhas trilhas você perde a direção
Não há placa nem pessoas informando aonde vão
Penso outra vez estou sem meus amigos
E retomo a porta aberta dos perigos
Na verdade continuo sob a mesma condição
Distraindo a verdade, enganando o coração
Na verdade continuo sob a mesma condição
Distraindo a verdade, enganando o coração

quinta-feira, 12 de junho de 2008

das necessidades

eu preciso viajar.
é como se dentro de mim habitasse um mudo que precisa se comunicar com um cego.
eu preciso parir esta ponte.
eu preciso sair daqui pra saber o caminho de volta.

das escolhas

não, não são elas que movem, elas imobilizam...

da série: escrever é...

escritor é um fingidor

por Patrícia 'Ticcia' Antoniete - de Porto Alegre -

A vida não é literatura e a recíproca, meu bem, é verdadeira. Não há literatura que espelhe seu autor, felizmente, por mais que para me certificar de que eu estou viva, precise escrever e escrever, me traduzir e me reinventar, me embaralhar e me perder e me achar, muitas vezes torta e deformada, naquele mesmo espelho.
Literatura não é biografia - não se engane - e, no entanto, é certo que não há ali nenhuma vírgula que não tenha sido tirada do mais fundo de mim. Afinal, qual seria a matéria prima, que não tudo o que sinto, experimento, fagocito, apreendo, absorvo? Mas ainda assim o texto não sou eu, nem fala de mim, não se iluda. A palavra é outra matéria desprendida de mim, que me honra e me eleva, me justifica, me apascenta a carne, me destrói e me acumula, me inverte, me aterroriza, me instiga, me joga no vento, me umidifica e me fertiliza, me transforma. A palavra me amplifica e me diminui, mistura o de mim com tudo que a mim chega e reverbera, com o que posso me permear e me urdir, com tudo que já sou capaz de acolher.
Quando escrevo, deixo de rastejar e de doer. Quando escrevo, sou coisa inapreensível, sem rosto, sem lugar, nem tempo, movo-me acima de mim, construo algo que não tenho, em outra freqüência, outra cor, outro foco e contraste. Quando escrevo, escrevo para não me ser, para me des-ser e, fora de mim, me ver de longe, decuplicada, desmantelada, confundida, decomposta em partes e rearranjada em outras que não são eu, que sofrem, riem, mentem, voam, vomitam sangue, morrem, negam, entristecem, roubam, fodem, amam, dizem a verdade, são cruéis, trucidam, nascem outras, quantas e tantas vezes quantas me apetecerem.
Não espere me encontrar no texto, não me prenda, não busque no ar a minha forma, ainda que ali eu tenha dito que sou eu, ainda que eu precise que você acredite que me encontrou. Não me faça refém das asas que eu custei tanto a saber como usar, não me escravize no incomensurável outro, não tente me achar onde eu preciso mesmo é me perder.

domingo, 8 de junho de 2008

Barthes

A palavra é de uma leve substância química que opera as mais violentas alterações.

(Sim, agora que a minha monografia vai começar a mandar em mim, eu coleciono e posto citações. É, vou escrever sobre a palavra escrita e o ato de escrever.)

Mario Quintana

Um lugar só é bom quando a gente pode fugir para outro lugar.

domingo, 1 de junho de 2008

Escrita Herege

"A leitura dos textos não escritos, tem outra qualidade: o silêncio."

"A escrita investe na eternidade contra as virtudes do efêmero e perde sempre uma lasca da vida, ao erigir suas paredes sólidas."

(pra quem gosta de escrever, "A escrita herege", da Márica Tiburi, que se encontra na Revista "História UNISINOS", volume 8, número 10 de 2004 é imperdível)

das perfeições

"A filosofia é a forma do pensamento quando procura deixar falar o silêncio e eleva à conceito à impossibilidade do dizer e do mostrar."
(A escrita herege da Márcia Tiburi)

fim

todo final sempre é aquilo: a gente mata ou morre.
o fim da novela do homem que grita "epa, epa, epa", foi uma superação: matou e fez morrer toda a arte que pode existir numa novela.
primeiro, a briga das branquelas.
depois, o casamento coletivo.
pra culminar na palhaçada da maria louca.

e nem teve o tal beijo gay...