quarta-feira, 27 de abril de 2011

um país distante... chamado Academia

a criatura não lembrava que exista coisa mais deprimente do que se olhar pelada no espelho no inverno (com mais quilos, menos cor e mais pêlos).
mas, eis que a moça da academia sem dó nem piedade mede a gente de cima abaixo com aquela maldita pinça que mede gordura.

depois, ainda vem com aquele papo: o que vamos priorizar? fortalecer os músculos, definir a barriga e ...

olha, eu só disponho de uma por dia e meu único verbo em questão é perder. perder. pode ser até perda de músculos se diminuir peso e medidas. vai ser meia hora de esteira, vinte minutos de bike e 5 minutos daquela coisa que eu não sei o nome e que mata a gente de tanto fazer força nas coxas...

a moça não disse quase nada, mas me ensinou os alongamentos que é pra fazer no início e no final. os do final eu já decidir matar.
mas, vou fazer uns abdominais extras que força de vontade de principiante tem que se aproveitada.

terça-feira, 26 de abril de 2011

alívio: ela voltou e deu tudo certo!

acredito que tem gente quem ache ela brava, tem gente que poderia matá-la, mas tem gente que acha ela o máximo.
eu acho que ela é do tamanho da sua sensibilidade, enorme.
às vezes ela não dorme.
às vezes perde a fome.
outras se alimenta de verde e arte.
tem asas e atira umas pedras.
tantas vezes ela grita o que me sufoca, sem nem saber.

ela estará uns dias correndo por hospitais, querendo que a dor fosse dela.
a menina ainda cabe em seus braços.
o amor não é só um braço que abraça, também é um braço que nos corta as pernas quando precisamos correr.

ela vai até lá, viver o que ninguém pode contar.
volta quebrada, mas inteira.
ela é também os seus.

queria dizer uma coisa antes de ela ir.
mas, ela é além das palavras. e sempre está lá antes da hora, além do tempo.

os braços dela ainda hão de escrever histórias desta menina que irá crescer além dos seus braços.

o motivo de sempre

então, o meu corpo não pode mais com todas as químicas da piscina.
e preciso de atividade física.
(imagina, já não tenho paciência pra unha, cabelo e maquiagem. pra roupas eu não tenho muito jeito. eu preciso me puxar em alguma coisa antes de desistir de vez e virar um bicho ou comprar uma cadeira de balanço.)

fui lá me matricular na academia. (todas as minhas experiências em academia foram relâmpagos - por motivos óbvios...)
enquanto o moço falava eu espiava as bundas das meninas da academia.
às vezes eu pensava que elas são feitas de uma material bem supeior do que este que me compõe. às vezes eu tinha medo até de imaginar tudo que elas fazem para chegar lá (naquele estágio da bunda sem nehuma celulite). sai de lá perdida. mas, eu volto. 5kg sempre é uma motivação.

amém

eu gosto de livros.
eu compro livros que eu já li e gostei só para tê-los por perto.
eu releio com a emoção de quem inaugura.
tem trechos que eu poderia vestir.
e tem trechos que me pelam.

um dia eu vou crescer e vou parar de emprestar os meus livros para quem eu não deveria.
não sei, vai ver que acredito naquilo do livro ser um bem universal.
eu fico achando que a literatura pode alivar qualquer tragédia e oxigenar qualquer rotina.
eu empresto, eu tenho vergonha de pedir de volta, eles não voltam, eu esqueço quem levou.
pra variar: eu levo a pior.

mas, como todo mundo que leva a pior, se deus quiser (minha mãe diz que ele sempre quer) eu vou aprender. eu vou. amém.

...

eu não tive câncer, ainda tenho pai e mãe, as minhas contas estão em dia, ainda me sobra grana no fim do mês, mas o meu fim do mundo sempre chega. eu não gosto da comida que eu faço e mesmo assim prefiro almoçar em casa. eu escrevo porque não ouso gritar. eu caminho pelas ruas e não vejo as pessoas. acho que estou a salvo de um tsunami e de uma tuberculose. mas, eu me desmancho por coisas que as pessoas não enxergam. me dói a criança que atravessa sozinha e na sorte uma avenida. me dói o chinelo de dedo do homem que passa por mim num dia frio. me perturba tantas pessoas engessadas em suas bobagens fúteis. me consome a corrupção que a TV noticia. as pessoas que vivem do lixo. me faz chorar a música do rádio. me faz rir o provérbio do pára-choque do caminhão. me atropelam estes adolescentes que se fazem de adultos e estes adultos que não crescem. a minha mãe reza por mim e eu acredito mais nela que em deus - ela xinga e eu acho graça. tanta gente se fotografa sem parar e eu ainda me assusto com o espelho. tanta gente corre e ainda não decidi aonde eu quero chegar. às vezes eu tenho pena de mim mesma e tenho vergonha de dizer.

talvez a trilha sonora seria "Deus lhe pague":

Deus Lhe Pague /Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague

quinta-feira, 7 de abril de 2011

"meu mundo tá fechado pra visitação"

eu ando escrevendo em papel.
é mais concreto e eu fico mais ao alcance das minhas próprias mãos que nunca sabem o que fazer de mim mesma.

Frutos
"Achava belo, a essa época, ouvir um poeta dizer que escrevia pela mesma razão porque uma árvore dá frutos. Só bem mais tarde viera a descobrir ser um embuste aquela afetação: que o homem, por força, distinguia-se das árvores, e tinha de saber a razão de seus frutos, cabendo-lhe escolher os que haveria de dar, além de investigar a quem se destinavam, nem sempre oferecendo-os maduros, e sim podres, e até envenenados." (Osman Lins - "Guerra Sem Testemunhas").

sim, é verdade.
e eu que às vezes usava o blog para "mandar recados" pra gente que se quer me lia...

mas, eu volto.
claro que volto.
sei fugir pela palavra, mas não dela.