quarta-feira, 16 de julho de 2008

a festa

às vezes as coisas não ficam mais claras nem depois da escuridão de uma noite de pouco sono.o que mais doeu durante a festa era que a alegria de todos eles era verdadeira.o que mais doeu foi confirmar que a saída é sempre uma porta quase ilusória que tão poucos ousam, e que talvez por isto as pessoas acreditam na alegria que qualquer um (até aquela que grita, mas acha que canta) consegue inventar. o mais angustiante é que sem precisar ser personagem, eles eram as pessoas da minha tragédia quase diária. talvez nenhum deles tenha se dado conta que o filme, é uma forma de quase traduzir o que ninguém ousa chamar pelo nome. este nome escrito com todas as letras nas linhas de cada ruga daqueles rostos vincados não só pelo tempo. mas por tudo que este pode carregar consigo. por tudo que o ele pode fazer (ou desfazer) das pessoas.e eu?eu estava ali, não sendo cúmplice da dor alheia, mas sabendo que eu estava em todos eles. sempre. desde os meus avós. passando por meus pais. e chegando aos filhos que eu nem penso em ter.ela que sempre consegue circular tão bem entre tudo e entre todos - que alcança as pessoas de uma forma profunda, sem muitas vezes se dar conta - , olhou para um senhor de mais de 80 anos e perguntou seu nome. ele contou contente que se chamava ito. repetiu várias vezes o sobrenome de poucas letras que eu esqueci) e emendou por conta a conversa, dizendo que fazia parte de 4 grupos de idosos e que há 5 anos namorava a companheira lenhardt. (sim, aqui muitas vezes as pessoas se matam para arrumar ou manter um sobrenome.)fiquei com pena de mim, que não tendo nem a metade da idade dele não relato minhas não-façanhas com a metade do seu entusiasmo.fiquei com pena de tanta gente que toma fluxetina pra acreditar nisto tudo que todo mundo saber de cor e faz de conta que não conhece.não, não acho que eu tenha ficado velha antes, apenas compreendi que a morte nos habita de tantas formas que acreditamos ser sua fuga.a florzinha (existe coisa mais irritante que "inha"?) mais perfeita para qualquer sepultura sempre é a falta de perspectiva, quando a gente sabe tão bem o calejamento dos próprios pés que que recolhe as asas, pra sempre.

Um comentário:

geheimnis disse...

o que comentamos, enquanto vc era filmada, foi que, com tanta pessoas em lajeado que adoram ser artistas e aparecer e que são extravagantes e empolgadas, quem estava no filme era você, justamente uma garota que não busca nada disso. talvez isso já seja o bastante para me deixar feliz. ver q vc estava lá, quando poderia ser tantas pessoas que esperam mais de tudo. vc nos fez chegar mais fundo dentro da nossa dor e deu mais legitimidade a história que precisamos contar.