Estou relendo "Precisamos falar sobre o Kevin".
Preciso de alguém para passar horas analisando e conversando comigo sobre o livro.
Tanta coisa e ninguém para dividir :(
Aliás, eu procurei e procurei uma foto do Kevin na internet e nada de achar.
Claro que é bobagem, mas pra mim faz diferença saber da cara deste personagem real que tanto sei pela fala de sua mãe.
Aliás, não ter características humanas esperadas socialmente é tão humano! E pra mim, acolhedor.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
do mundo dos sonhos
anos e anos depois de ter saído do Ensino Médio, vez em quando eu tinha pesadelos com as provas de matemática.
agora, dei para sonhar com as provas de Língua Alemã.
a graça / desgraça da vida é que a coisa sempre pode ficar pior.
vai ver que é por isto que acordo cansada...
agora, dei para sonhar com as provas de Língua Alemã.
a graça / desgraça da vida é que a coisa sempre pode ficar pior.
vai ver que é por isto que acordo cansada...
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
começando a existir
então, depois de muitos xerox, carimbos, esperas, filas e senhas eu sou uma cidadã: fiz o tal cartão do SUS e o Cartão Cidadão.
renovei também a carteira do SESC.
tomara também que eu entre 2011 sendo uma cidadã mais respeitada.
et - se eu tivesse um corpo Playboy, juro que nestas tantas vezes em que a gente se desmonta na porta do banco para poder entrar - sem o detector de metal trancar a porta e apitar como se a gente fosse uma bandida - eu tirava tudo e entrava só de calcinha.
mas, é aquilo que meu pai diz: Deus dá rapadura para quem não tem dentes.
renovei também a carteira do SESC.
tomara também que eu entre 2011 sendo uma cidadã mais respeitada.
et - se eu tivesse um corpo Playboy, juro que nestas tantas vezes em que a gente se desmonta na porta do banco para poder entrar - sem o detector de metal trancar a porta e apitar como se a gente fosse uma bandida - eu tirava tudo e entrava só de calcinha.
mas, é aquilo que meu pai diz: Deus dá rapadura para quem não tem dentes.
domingo, 26 de dezembro de 2010
fim de ano
dia destes ao sair do asilo com a minha mãe, senti pena de mim mesma por não saber beber. era a hora perfeita para entrar num boteco.
mas, para a virada eu já tenho o meu moscatel.
pois, de novo, só a minha agenda onde anotarei os meus velhos problemas.
mas, para a virada eu já tenho o meu moscatel.
pois, de novo, só a minha agenda onde anotarei os meus velhos problemas.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
bus
minha mãe não gosta de andar de ônibus.
mas, anda comigo porque eu gosto. e peço.
e eu gosto mesmo.
todos aqueles pedaços de conversa, aquelas confissões, aquelas filosofias de boteco... umas crianças dormindo no colo, outras ganhando um chocolate para ficarem comportadas, os uniformes, as roupas mais ousadas e o cheiro de suor.
como se aquelas pessoas tivessem mais certeza do seu destino.
para mim, ônibus é um daqueles lugares onde a vida acontece. anda. desanda. mas, o mais importante: segue adiante.
mas, anda comigo porque eu gosto. e peço.
e eu gosto mesmo.
todos aqueles pedaços de conversa, aquelas confissões, aquelas filosofias de boteco... umas crianças dormindo no colo, outras ganhando um chocolate para ficarem comportadas, os uniformes, as roupas mais ousadas e o cheiro de suor.
como se aquelas pessoas tivessem mais certeza do seu destino.
para mim, ônibus é um daqueles lugares onde a vida acontece. anda. desanda. mas, o mais importante: segue adiante.
ônus e bônus
não gosto de usar vestido.
com alguns eu pareço um liquidificador com aquelas capas rendadas.
com outros a coisa é menos pior, mas tem tudo aquilo de me faltar os tais modos de uma moça para sentar e a falta de paciência de cruzar sempre as pernas.
mas, quando encana um vento entre as pernas, neste calor do inferno, compensa!
com alguns eu pareço um liquidificador com aquelas capas rendadas.
com outros a coisa é menos pior, mas tem tudo aquilo de me faltar os tais modos de uma moça para sentar e a falta de paciência de cruzar sempre as pernas.
mas, quando encana um vento entre as pernas, neste calor do inferno, compensa!
sábado, 18 de dezembro de 2010
juro que às vezes eu tento ser saudável
a gente paga CARO pelo plano de saúde e quando precisa alguma coisa a secretária do médico diz:
tem hora só para daqui 45 dias, mas se for consulta particular tem para semana que vem.
a gente vai ao PA e tem gente baleada, mulher espancada. a gente vai embora achando o problema pequeno demais para aqueles excessos de vida real.
no outro dia a dor volta e a gente liga de novo para a secretária que não tem culpa de nada.
sou eu de novo. acho que se o fulaninho doutor não gosta de atender plano deve se descadastrar, sabe?
ela, toda educada pergunta se a gente quer marcar uma hora.
não obrigada, queria só avisá-los que vou ali fazer uma automedicação e já volto.
tem hora só para daqui 45 dias, mas se for consulta particular tem para semana que vem.
a gente vai ao PA e tem gente baleada, mulher espancada. a gente vai embora achando o problema pequeno demais para aqueles excessos de vida real.
no outro dia a dor volta e a gente liga de novo para a secretária que não tem culpa de nada.
sou eu de novo. acho que se o fulaninho doutor não gosta de atender plano deve se descadastrar, sabe?
ela, toda educada pergunta se a gente quer marcar uma hora.
não obrigada, queria só avisá-los que vou ali fazer uma automedicação e já volto.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
épocas
eu tenho saudade daquele tempo em que todas as mercadorias tinham o preço colado em cima.
no meio do mercado sempre tinha gente com aquelas máquinas colando preços nos produtos.
naquela época eu sempre sabia o que eu podia comprar.
hoje eu mal sei por quanto eu me vendo.
no meio do mercado sempre tinha gente com aquelas máquinas colando preços nos produtos.
naquela época eu sempre sabia o que eu podia comprar.
hoje eu mal sei por quanto eu me vendo.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
das facilidades
um dia porque estava cansada, outro porque o dia estava difícil, no outro porque precisava dormir bem e tantas vezes porque tinha cansado de se indispor.
foi assim que ela foi desistindo de algumas pequenas coisas.
não demorou e doeu um pouco só: ela aprendeu a ignorar coisas que a incomodavam.
não reclamava, não brigava.
esquecia. não via. engolia.
um dia ao se olhar no espelho, ela ficou em dúvida sobre uma pinta perto da boca. nascera com ela, mas não lembrava. só sossegou quando olhou uma foto desbotada de si mesma, mas não mais desbotada que as suas certezas.
doeu bem mais do que ela imaginava e nunca mais passou.
foi assim que ela foi desistindo de algumas pequenas coisas.
não demorou e doeu um pouco só: ela aprendeu a ignorar coisas que a incomodavam.
não reclamava, não brigava.
esquecia. não via. engolia.
um dia ao se olhar no espelho, ela ficou em dúvida sobre uma pinta perto da boca. nascera com ela, mas não lembrava. só sossegou quando olhou uma foto desbotada de si mesma, mas não mais desbotada que as suas certezas.
doeu bem mais do que ela imaginava e nunca mais passou.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
- 2 kg
emagrecer tem lá as suas vantagens:
-todas as roupas que temos entram na moda.
-podemos usar uma batinha sem ninguém perguntar pelo bebê que não temos na barriga
-podemos nos olhar peladas no espelho e acreditar que Deus existe
claro que às vezes a gente pensa em roubar o sorvete da criança que passa pela nossa frente, tem vontade de comer até os legumes que estampam a toalha de mesa,... e sai do sério e passa mal.
mas, pensar que no Natal a pança destaque será a do Papai Noel e não a sua, é bem animador.
-todas as roupas que temos entram na moda.
-podemos usar uma batinha sem ninguém perguntar pelo bebê que não temos na barriga
-podemos nos olhar peladas no espelho e acreditar que Deus existe
claro que às vezes a gente pensa em roubar o sorvete da criança que passa pela nossa frente, tem vontade de comer até os legumes que estampam a toalha de mesa,... e sai do sério e passa mal.
mas, pensar que no Natal a pança destaque será a do Papai Noel e não a sua, é bem animador.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
ala médica
então, depois de 3 anos eu volto para fazer novamente o exame ginecológico.
no meio daquilo tudo que compreende o exame, o médico começa a comentar as condições do tempo.
não pude com aquilo, tasquei: nenhuma condição climática é capaz de alterar as minhas vergonhas numa hora destas.
pra finalizar: tô pensando no DIU. menos hormônios. menos efeito colateral. pra me estragar a saúde já me chega a vida.
---
ele me contou que está com os ouvidos fechados e que vai ter que esperar 20 dias para o especialista atendê-lo. pela UNIMED.
e depois os médicos são contra a auto-medicação...
no meio daquilo tudo que compreende o exame, o médico começa a comentar as condições do tempo.
não pude com aquilo, tasquei: nenhuma condição climática é capaz de alterar as minhas vergonhas numa hora destas.
pra finalizar: tô pensando no DIU. menos hormônios. menos efeito colateral. pra me estragar a saúde já me chega a vida.
---
ele me contou que está com os ouvidos fechados e que vai ter que esperar 20 dias para o especialista atendê-lo. pela UNIMED.
e depois os médicos são contra a auto-medicação...
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
ao meu redor
ela me falando sem parar da importância do filtro solar em dias de chuva.
na primavera, é só nos dias de chuva que eu respiro em paz e ela acredita que eu vou lembrar do filtro. ela acredita.
aliás, eu olho para os lados e me sinto folheando a revista caras: todo mundo com as unhas feitas, cada fio de cabelo no lugar, aquele salto que me faz doer o pé só de olhar, o lápis no olho, a roupa desconfortável da moda. os brincos pesando nas orelhas.
aquela agonia muda de todas as bundas sem celulite.
estes dias vi um rímel que custava 200,00 reais. será que uma moldura destas melhora a paisagem? será que quem usa um troço destes é uma paisagem?
o pouco tempo que me sobra eu uso na piscina, na internet, no meu novo seriado, na louça que dá cria na minha pia, nas caminhadas, nas músicas, nos trechos da Clarice Lispector.
mas, eu juro que eu queria ter este anônimo. esta disposição.`
eu sempre tive medo de gente que parece de revista e sempre me apaixonei pelo personagem do livro. mas, preciso confessar: os personagens dos livros só estão nos livros e eu ando assustada.
ele levao os pés-de-pato para nadar e não usa. não se ilude. eu alimento as minhas esperanças a pão-de-ló. já são tão parcas.
na primavera, é só nos dias de chuva que eu respiro em paz e ela acredita que eu vou lembrar do filtro. ela acredita.
aliás, eu olho para os lados e me sinto folheando a revista caras: todo mundo com as unhas feitas, cada fio de cabelo no lugar, aquele salto que me faz doer o pé só de olhar, o lápis no olho, a roupa desconfortável da moda. os brincos pesando nas orelhas.
aquela agonia muda de todas as bundas sem celulite.
estes dias vi um rímel que custava 200,00 reais. será que uma moldura destas melhora a paisagem? será que quem usa um troço destes é uma paisagem?
o pouco tempo que me sobra eu uso na piscina, na internet, no meu novo seriado, na louça que dá cria na minha pia, nas caminhadas, nas músicas, nos trechos da Clarice Lispector.
mas, eu juro que eu queria ter este anônimo. esta disposição.`
eu sempre tive medo de gente que parece de revista e sempre me apaixonei pelo personagem do livro. mas, preciso confessar: os personagens dos livros só estão nos livros e eu ando assustada.
ele levao os pés-de-pato para nadar e não usa. não se ilude. eu alimento as minhas esperanças a pão-de-ló. já são tão parcas.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
...
(mais música pro livro)
Skap
Zeca Baleiro
Quando você pinta tinta, dessa tela cinza
Quando você passa doce, dessa fruta passa
Quando você entra mãe-benta, amor aos pedaços
Quando você chega nega fulô
Boneca de piche
Flor de azeviche
Você me faz parecer menos só
Menos sozinho
Você me faz parecer menos pó
Menos pozinho
Quando você fala bala, no meu velho oeste
Quando você dança lança flecha, estilingue
Quando você olha molha meu olho que não crê
Quando você pousa mariposa morna, lisa
O sangue encharca a camisa
Você me faz parecer menos só
Menos sozinho
Você me faz parecer menos pó
Menos pozinho
Quando você diz, o que ninguém diz
Quando você quer, o que ninguém quis
Quando você ousa lousa pra que eu possa ser giz
Quando você arde, alardeia sua teia cheia de ardis
Quando você faz a minha carne triste, quase feliz.
para escutar: http://letras.terra.com.br/zeca-baleiro/91979/
Skap
Zeca Baleiro
Quando você pinta tinta, dessa tela cinza
Quando você passa doce, dessa fruta passa
Quando você entra mãe-benta, amor aos pedaços
Quando você chega nega fulô
Boneca de piche
Flor de azeviche
Você me faz parecer menos só
Menos sozinho
Você me faz parecer menos pó
Menos pozinho
Quando você fala bala, no meu velho oeste
Quando você dança lança flecha, estilingue
Quando você olha molha meu olho que não crê
Quando você pousa mariposa morna, lisa
O sangue encharca a camisa
Você me faz parecer menos só
Menos sozinho
Você me faz parecer menos pó
Menos pozinho
Quando você diz, o que ninguém diz
Quando você quer, o que ninguém quis
Quando você ousa lousa pra que eu possa ser giz
Quando você arde, alardeia sua teia cheia de ardis
Quando você faz a minha carne triste, quase feliz.
para escutar: http://letras.terra.com.br/zeca-baleiro/91979/
das condições
eu tenho medo de mim mesma quando não posso nadar ou ecrever...
A minha cerca tem a altura de mais de 30 anos é feita de um material mais frágil que as minhas unhas quebradiças. Mas, a cadência dos movimentos circulares tão perfeitos de todos estes circuitos fechados que me rodeiam me tornam mais frágil que um fio de cabelo.
Não chegar a loucura é permitir que a loucura nos pegue no colo de vez em quando. É olhá-la dentro dos olhos e descobrir que também fizemos morada ali. É nos darmos uma trégua destes circuitos, destes padrões, é olhar pra frente olhando pra trás. É como cantou o Humberto Gessinger: Quando descobrimos as chaves que abrem esta prisão, descobrimos que quem duvida da vida tem culpa, mas quem evita a dúvida tem ainda mais.
Como sabiamente disse a Clarice: depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros. Ou seja: nunca mais pude me permitir correr nestes circuitos fechados sem parar para refletir e oxigenar a vida com linhas de fuga. E estas, diferentes da cerca da louca não nos perseguem, mas precisam ser perseguidas por nós. E inventada e reinventadas por todos. Pois felizmente a consciência destes circuitos é um caminho sem volta, é um caminho que nos leva além... mas ele precisa ser construído para a gente se dar ao luxo de viver que é estar em construção - único sentido possível para isto que denominamos vida.
A minha cerca tem a altura de mais de 30 anos é feita de um material mais frágil que as minhas unhas quebradiças. Mas, a cadência dos movimentos circulares tão perfeitos de todos estes circuitos fechados que me rodeiam me tornam mais frágil que um fio de cabelo.
Não chegar a loucura é permitir que a loucura nos pegue no colo de vez em quando. É olhá-la dentro dos olhos e descobrir que também fizemos morada ali. É nos darmos uma trégua destes circuitos, destes padrões, é olhar pra frente olhando pra trás. É como cantou o Humberto Gessinger: Quando descobrimos as chaves que abrem esta prisão, descobrimos que quem duvida da vida tem culpa, mas quem evita a dúvida tem ainda mais.
Como sabiamente disse a Clarice: depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros. Ou seja: nunca mais pude me permitir correr nestes circuitos fechados sem parar para refletir e oxigenar a vida com linhas de fuga. E estas, diferentes da cerca da louca não nos perseguem, mas precisam ser perseguidas por nós. E inventada e reinventadas por todos. Pois felizmente a consciência destes circuitos é um caminho sem volta, é um caminho que nos leva além... mas ele precisa ser construído para a gente se dar ao luxo de viver que é estar em construção - único sentido possível para isto que denominamos vida.
(des)aprendizagens
...eu só aprendi o que ousei perder!
desde sempre vim pelo caminho difícil.
aprendendo o passo no tombo.
o vôo na queda livre.
a enxergar no escuro.
quando a física falava na velocidade do trem
eu me interessava pelo passageiro que imaginava na janela.
quando foram-me ensinadas as regras da gramática
as piadas que quintana e leminski faziam com elas já me habitavam.
da matemática
só me sobrou o horror do "x" e o medo do "y".
aprendi muito prestando atenção no quadro
e muito mais desviando o olhar para a janela.
sempre me perdi num prisma
que poucas vezes consegui traduzir ou pelo qual ninguém se interessou.
soube que não estava perdida
quando li caio (fernando abreu), clarice (lispector) e pessoa (fernando).
nos filmes me comoveram as atmosferas
e me sobraram muitas cenas.
me esforcei para memorizar as datas históricas
e só aprendi que o ser humano é a pior e a melhor coisa (sim, COISA) deste mundo.
a abstração sempre me fez (e faz) mais concreta
que qualquer razão.
na contramão da vida eu vejo a morte
e a partir dela vou parindo o que me faz viva.
na preguiça da louça
não quis saber cozinhar.
na distância da paciência
me acompanham as faltas domésticas.
na brutalidades dos sentimentos
nunca soube das etiquetas.
esqueci tudo que me foi gritado.
aprendi tudo que me foi sussurrado.
em grupo aprendi a solidão
na solidão me descobri a minha melhor companhia.
na perda de alguém
inaugurei uma multidão.
descobri o amor numa saudade
e a falta da paixão no mofo da pele.
ignorando as horas
senti o tempo pulsar.
a miopia me ensinou
a beleza disforme.
quando acabou o dinheiro
compreendi os números.
quando fiz uma escolha
o cheiro da renúncia se fez bússola.
no personagem do livro
me descobri acompanhada.
na propaganda da revista
conheci a exclusão.
em pequenos pecados aprendi grandes prazeres
que foram mutilados com ácido cristão.
são nos meus cacos
que eu me faço inteira.
desenhei o mapa da minha burrice
sou eu mesma nas minhas virgindades
ainda confio nas possibilidades
matéria da qual a vida é (des)feita.
(escrevendo aprendi
que sei fugir pelas palavras,
mas não delas.)
desde sempre vim pelo caminho difícil.
aprendendo o passo no tombo.
o vôo na queda livre.
a enxergar no escuro.
quando a física falava na velocidade do trem
eu me interessava pelo passageiro que imaginava na janela.
quando foram-me ensinadas as regras da gramática
as piadas que quintana e leminski faziam com elas já me habitavam.
da matemática
só me sobrou o horror do "x" e o medo do "y".
aprendi muito prestando atenção no quadro
e muito mais desviando o olhar para a janela.
sempre me perdi num prisma
que poucas vezes consegui traduzir ou pelo qual ninguém se interessou.
soube que não estava perdida
quando li caio (fernando abreu), clarice (lispector) e pessoa (fernando).
nos filmes me comoveram as atmosferas
e me sobraram muitas cenas.
me esforcei para memorizar as datas históricas
e só aprendi que o ser humano é a pior e a melhor coisa (sim, COISA) deste mundo.
a abstração sempre me fez (e faz) mais concreta
que qualquer razão.
na contramão da vida eu vejo a morte
e a partir dela vou parindo o que me faz viva.
na preguiça da louça
não quis saber cozinhar.
na distância da paciência
me acompanham as faltas domésticas.
na brutalidades dos sentimentos
nunca soube das etiquetas.
esqueci tudo que me foi gritado.
aprendi tudo que me foi sussurrado.
em grupo aprendi a solidão
na solidão me descobri a minha melhor companhia.
na perda de alguém
inaugurei uma multidão.
descobri o amor numa saudade
e a falta da paixão no mofo da pele.
ignorando as horas
senti o tempo pulsar.
a miopia me ensinou
a beleza disforme.
quando acabou o dinheiro
compreendi os números.
quando fiz uma escolha
o cheiro da renúncia se fez bússola.
no personagem do livro
me descobri acompanhada.
na propaganda da revista
conheci a exclusão.
em pequenos pecados aprendi grandes prazeres
que foram mutilados com ácido cristão.
são nos meus cacos
que eu me faço inteira.
desenhei o mapa da minha burrice
sou eu mesma nas minhas virgindades
ainda confio nas possibilidades
matéria da qual a vida é (des)feita.
(escrevendo aprendi
que sei fugir pelas palavras,
mas não delas.)
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
consulta com a dermatologista
vamos tratar as alergias? fazer um tratamento do início ao fim? recuperar a pele e depois mantê-la?
tá, pode ser.
pomada por 5 dias, remédio por 10 dias e sem piscina por 10 dias.
dá para intercalar? durante 10 dias piscina dia sim/dia não.
não, não dá. algum problema?
todos, mas eu resolvo. mas, vou ficar 100%?
não dá para saber, não é matemática...
mas, e a piscina?
também não é matemática...
tá, pode ser.
pomada por 5 dias, remédio por 10 dias e sem piscina por 10 dias.
dá para intercalar? durante 10 dias piscina dia sim/dia não.
não, não dá. algum problema?
todos, mas eu resolvo. mas, vou ficar 100%?
não dá para saber, não é matemática...
mas, e a piscina?
também não é matemática...
domingo, 10 de outubro de 2010
cada um com suas cosinhas
tem aqueles que colecionam moedas, selos, roupas e sapatos.
eu coleciono trechinhos de música para textos.
agora eu tô pensando em uma historieta de quase amor (não sei o que é mais complicado, o "quase" ou o "amor") e tô doida pra usar:
"ela procurava um príncipe
ele procurava a próxima.
ele reparou nos óculos
ela reparou na vírgulas."
(Formato Mínimo - Skank)
"apaga a luz e fecha a porta"
(Fonte da Saudade - Kleiton e Kledir)
E mais umas coisinhas de Vitor Ramil e Chico Buarque...
eu coleciono trechinhos de música para textos.
agora eu tô pensando em uma historieta de quase amor (não sei o que é mais complicado, o "quase" ou o "amor") e tô doida pra usar:
"ela procurava um príncipe
ele procurava a próxima.
ele reparou nos óculos
ela reparou na vírgulas."
(Formato Mínimo - Skank)
"apaga a luz e fecha a porta"
(Fonte da Saudade - Kleiton e Kledir)
E mais umas coisinhas de Vitor Ramil e Chico Buarque...
eu escrevo
Eu escrevo porque eu não gosto de dirigir, mas preciso chegar. Porque não sei usar um vestido decotado, mas acho lindo. Escrevo porque o espelho me assusta. Escrevo porque eu não me gosto falando e mesmo assim eu não consigo calar a boca. Escrevo porque eu me apaixono pelo personagem do livro. Escrevo para dar vida aos amores platônicos. Escrevo pra deixar questões que eu não consigo responder em guardanapos pelos botecos por onde passo. Escrevo porque tem pessoas que me habitam sem saber. Escrevo porque a comida não mata fome. Escrevo porque não ligo a TV e não sei comentar a novela. Escrevo porque preciso fazer a memória ficar suportável. Escrevo porque sou louca por música e pelas possibilidades que o silêncio sugere. Escrevo para conseguir acreditar nas coisas que me acontecem e porque tenho saudades de muitas coisas que não aconteceram. Escrevo porque detesto telefone. Escrevo porque tenho medo de quebrar o encanto de tudo que está demasiado perto. Eu escrevo para meter a mão na merda sem feder os meus dedos. Para roubar o beijo que eu não tenho coragem. Eu escrevo porque eu cansei do colchão e preciso do chão para sentir os ossos do meu corpo. Eu escrevo para que meus dedos tenham as unhas que eu nunca tive. Escrevo porque a minha voz tranca. Eu escrevo porque eu não sei o que eu procuro, mas gosto de estar viva à procura. Eu escrevo para desaprender as letras e só usar os meus sentidos. Eu escrevo porque meu terapeuta ficou caro demais. Eu escrevo porque todas as certezas me puxaram o tapete. Eu escrevo porque as entrelinhas de tudo o que eu leio me sugam. Eu escrevo porque sem organizar a frase o meu sono não vem. Eu escrevo porque me parir nas teclas me faz mais inteira. Eu escrevo para juntar os meus cacos. Eu escrevo porque eu preciso de tradução. Escrevo porque os políticos me fazem menos humana e o voto é obrigatório. Eu escrevo porque eu persigo abismos e estranhamentos. Porque ninguém valoriza a moeda que eu cultuo. Eu escrevo porque eu sou apaixonada pela minha miopia. Eu escrevo porque as palavras riem comigo. Porque eu preciso ficar sozinha. Eu escrevo porque a Clarice disse que a vida é uma loucura que a morte faz e a minha cúmplice nisto tudo é a palavra. Escrevo porque minguo de tantas saudades de acreditar. Eu escrevo porque eu sei fugir pela palavra, mas não dela. Escrevo porque eu desisti de ter jeito.
planilha de cálculos - do blog Mafalda Crescida
PLANILHA DE CÁLCULOS
O preço do silêncio é a mágoa.
O preço da fala é o atrito.
O preço da ousadia são os arranhões.
O preço do medo é a angústia.
O preço da mudança é a incerteza.
O preço da apatia é a frustração.
O preço da ação é a reação.
O preço da inércia é a dureza.
O preço do encontro é a separação.
O preço da fuga é a solidão.
O preço da emoção é a confusão.
O preço do desdém é a frieza.
O preço da auto-estima é a intolerância.
O preço da auto-depreciação é a infelicidade.
O preço do vínculo é a dependência.
O preço da esquivança é o vazio.
O preço do desejo é o vício.
O preço do recalque é a insatisfação.
O preço do altruísmo é o esgotamento.
O preço do egoísmo é a rejeição.
O preço do amor é a dor.
O preço da segurança é a tristeza.
O preço do atrevimento é o castigo.
O preço da submissão é a raiva contida.
O preço da liberdade é o julgamento.
O preço da opressão é o limite.
O preço do sucesso é a inveja.
O preço do fracasso é a vergonha.
O preço da verdade é a incompreensão.
O preço da mentira é a ilusão.
O preço da consciência é a responsabilidade.
O preço da ignorância é a manipulação.
O preço de sobreviver é a morte em vida.
O preço de viver é a própria vida.
Agora é fazer os cálculos, conferir os recursos e fazer as contas do quanto se quer e se pode gastar.
Porque o preço de fazer escolhas é pagar por elas.
E o preço de não fazê-las, também.
*** vale lembrar que eu sou péssima com os cálculos e sempre pago (caro) por isto.
eu simplesmente não calculo algumas coisas, apenas intuo.
há aqueles que dizem que a intuição é uma arma feminina, eu já acho que o impulso é armadilha das meninas.
O preço do silêncio é a mágoa.
O preço da fala é o atrito.
O preço da ousadia são os arranhões.
O preço do medo é a angústia.
O preço da mudança é a incerteza.
O preço da apatia é a frustração.
O preço da ação é a reação.
O preço da inércia é a dureza.
O preço do encontro é a separação.
O preço da fuga é a solidão.
O preço da emoção é a confusão.
O preço do desdém é a frieza.
O preço da auto-estima é a intolerância.
O preço da auto-depreciação é a infelicidade.
O preço do vínculo é a dependência.
O preço da esquivança é o vazio.
O preço do desejo é o vício.
O preço do recalque é a insatisfação.
O preço do altruísmo é o esgotamento.
O preço do egoísmo é a rejeição.
O preço do amor é a dor.
O preço da segurança é a tristeza.
O preço do atrevimento é o castigo.
O preço da submissão é a raiva contida.
O preço da liberdade é o julgamento.
O preço da opressão é o limite.
O preço do sucesso é a inveja.
O preço do fracasso é a vergonha.
O preço da verdade é a incompreensão.
O preço da mentira é a ilusão.
O preço da consciência é a responsabilidade.
O preço da ignorância é a manipulação.
O preço de sobreviver é a morte em vida.
O preço de viver é a própria vida.
Agora é fazer os cálculos, conferir os recursos e fazer as contas do quanto se quer e se pode gastar.
Porque o preço de fazer escolhas é pagar por elas.
E o preço de não fazê-las, também.
*** vale lembrar que eu sou péssima com os cálculos e sempre pago (caro) por isto.
eu simplesmente não calculo algumas coisas, apenas intuo.
há aqueles que dizem que a intuição é uma arma feminina, eu já acho que o impulso é armadilha das meninas.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
fala fala
dizem por aí que o ganhador da mega sena é solteiro.
se eu fosse ele declararia que era gay, fosse ou não fosse.
se as mulheres já não dão sossego a ninguém, imagina o que farão com ele...
se eu fosse ele declararia que era gay, fosse ou não fosse.
se as mulheres já não dão sossego a ninguém, imagina o que farão com ele...
domingo, 3 de outubro de 2010
das pérolas da TV
Então, o repórter pergunta à Cléo Pires: O que mudou na tua vida depois das fotos para a Playboy?
Ela: Nada, eu sempre me vi pelada.
Ela: Nada, eu sempre me vi pelada.
sábado, 25 de setembro de 2010
da série "motivos, cada um que cuide dos seus"
já faz mais de ano que parei de olhar novela.
qualquer novela. todas as novelas.
poderia dizer que é falta de tempo, que o roteiro é ruim e por aí vai.
mas, a verdade é que não consegui mais ver tanta (todas, diga-se de passagem) bunda sem celulite.
qualquer novela. todas as novelas.
poderia dizer que é falta de tempo, que o roteiro é ruim e por aí vai.
mas, a verdade é que não consegui mais ver tanta (todas, diga-se de passagem) bunda sem celulite.
lá do Palavra Aguda
Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre
“Milágrimas“, de Itamar Assumpção e Alice Ruiz
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre
“Milágrimas“, de Itamar Assumpção e Alice Ruiz
da complicada arte de comer
quando eu era escoteira, antes da gente comer, rezávamos assim: "uns têm, mas não podem. outros podem, mas não têm. nós que temos e podemos, agradecemos ao senhor."
hoje eu tenho e posso, mas pela consciência das minhas protuberâncias me culpo e não agradeço ao senhor.
hoje eu tenho e posso, mas pela consciência das minhas protuberâncias me culpo e não agradeço ao senhor.
coisas da idade
depois do 30, quando um mulher diz: " tenho uma coisa pra te contar..." TODOS têm certeza que ela está grávida.
pois, eu afirmo que depois dos 30 as mulheres têm outros estados interessantes que não seja o gestacional.
pois, eu afirmo que depois dos 30 as mulheres têm outros estados interessantes que não seja o gestacional.
domingo, 19 de setembro de 2010
da série: pequenas tristezas domésticas
vez em quando uma meia perde o seu par.
passa a ser uma meia solteira por dias e dias fora da gaveta, numa canto qualquer.
às vezes é passageiro, às vezes não - como na vida real.
passa a ser uma meia solteira por dias e dias fora da gaveta, numa canto qualquer.
às vezes é passageiro, às vezes não - como na vida real.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
inventário dos meus 33 - 34 anos
então, chego aos 34 anos. (dia 19 de setembro)
juro que ainda lembro dos 14, mas sem saudades devido às provas de matemática.
muitos cabelos brancos ainda não pintados.
uma casa meia própria porque divido com o marido.
umas quantas calças jeans abandonadas pelo conforto do suplex.
uns quilos pra perder.
a fé de melhorar a minha bunda, persiste.
a fé na humanidade voltando bem devargarzinho - efeito do contato com as crianças na APAE.
alguns pilas no banco (conferidos semanalmente depois que a minha mãe teve o cartão clonado).
algumas neuroses e muitas paranóias.
uma quase compulsão pela escrita: o verbo em dia e a pilha de louça na pia ou a louça lavada e as palavras não escritas me engasgando.
saudades da minha vó que já morreu.
a falta de jeito pra fazer unha, usar batom,combinar as roupas e usar meia-calça.
medo de salto alto. gosto pela cafonice das plataformas.
horas e horas na piscina térmica. (pela bunda e pela paz)
alergias respiratórias e epidérmicas. pomadas, remédios e feridas. nehuma tatuagem.
um celular jurássico que nunca me deixa na mão.
o intestino mais preguiçoso do que eu.
um irmão longe e um tio no asilo.
pai fazendo pelling e mãe acreditando em tudo, mais que qualquer discípulo.
apertada no manequim 42 e folgada demais no 44.
um cachorro imaginário chamado benhur.
uns amigos reais que viram virtuais.
uns virtuais que sumiram.
falta de paciência para o mercado e fascinação (ainda) por clarice lispector.
todos os filmes que eu ando olhando não têm mais fim. tudo no ar. e eu com meio pulmão a cada vez que me emociono.
um monte de gente se matando, os enforcados têm mais êxito (na morte, não na vida).
listas de coisas escritas à mão do que farei com o prêmio da mega-sena (e jogo só de vez em quando) - as lotéricas fecham no horário sagrado do almoço quando eu resolvo as minhas burocracias existenciais -
dois empregos, um marido e sem amante.
adiando o psiquiatra por achar a hora dele cara demais.
um computador só meu por onde fujo, me perco e às vezes não volto.
esperando o sol como quem espera Deus.
branca que nem leite, as alergias levaram embora o meu sofrido e parco bronzeado artificial.
pêlo encravado, depilação definitiva à vista.
o medo da panela de pressão indo embora.
o ácido no rosto pela noite, a acidez lúcida de algumas pessoas, o riso aberto dos ingênuos.
é sempre nos primeiros calores de setembro que eu faço anos, mas ainda não é menopausa.
juro que ainda lembro dos 14, mas sem saudades devido às provas de matemática.
muitos cabelos brancos ainda não pintados.
uma casa meia própria porque divido com o marido.
umas quantas calças jeans abandonadas pelo conforto do suplex.
uns quilos pra perder.
a fé de melhorar a minha bunda, persiste.
a fé na humanidade voltando bem devargarzinho - efeito do contato com as crianças na APAE.
alguns pilas no banco (conferidos semanalmente depois que a minha mãe teve o cartão clonado).
algumas neuroses e muitas paranóias.
uma quase compulsão pela escrita: o verbo em dia e a pilha de louça na pia ou a louça lavada e as palavras não escritas me engasgando.
saudades da minha vó que já morreu.
a falta de jeito pra fazer unha, usar batom,combinar as roupas e usar meia-calça.
medo de salto alto. gosto pela cafonice das plataformas.
horas e horas na piscina térmica. (pela bunda e pela paz)
alergias respiratórias e epidérmicas. pomadas, remédios e feridas. nehuma tatuagem.
um celular jurássico que nunca me deixa na mão.
o intestino mais preguiçoso do que eu.
um irmão longe e um tio no asilo.
pai fazendo pelling e mãe acreditando em tudo, mais que qualquer discípulo.
apertada no manequim 42 e folgada demais no 44.
um cachorro imaginário chamado benhur.
uns amigos reais que viram virtuais.
uns virtuais que sumiram.
falta de paciência para o mercado e fascinação (ainda) por clarice lispector.
todos os filmes que eu ando olhando não têm mais fim. tudo no ar. e eu com meio pulmão a cada vez que me emociono.
um monte de gente se matando, os enforcados têm mais êxito (na morte, não na vida).
listas de coisas escritas à mão do que farei com o prêmio da mega-sena (e jogo só de vez em quando) - as lotéricas fecham no horário sagrado do almoço quando eu resolvo as minhas burocracias existenciais -
dois empregos, um marido e sem amante.
adiando o psiquiatra por achar a hora dele cara demais.
um computador só meu por onde fujo, me perco e às vezes não volto.
esperando o sol como quem espera Deus.
branca que nem leite, as alergias levaram embora o meu sofrido e parco bronzeado artificial.
pêlo encravado, depilação definitiva à vista.
o medo da panela de pressão indo embora.
o ácido no rosto pela noite, a acidez lúcida de algumas pessoas, o riso aberto dos ingênuos.
é sempre nos primeiros calores de setembro que eu faço anos, mas ainda não é menopausa.
sábado, 4 de setembro de 2010
mega sena
eu sou lerda para entender estes milhões da mega sena.
mas, alguém me disse que se eu ganhasse e deixasse o dinheiro na poupança me renderia 10 mil por dia. eu já viveria muito bem com 10 mil por mês.
dez mil por dia, eu teria que fazer um bom tratamento dentário: eu ia sorrir até dormindo.
então, se você é daqueles que não saberia o que fazer com o dinheiro, ou acha que tanta grana estraga tudo... e se por acaso ganhar... doa pra mim!
e caso você precise de um estímulo pra jogar: faça uma lista se todas as pessoas que você gostaria de mandar tomar no c*.
mas, alguém me disse que se eu ganhasse e deixasse o dinheiro na poupança me renderia 10 mil por dia. eu já viveria muito bem com 10 mil por mês.
dez mil por dia, eu teria que fazer um bom tratamento dentário: eu ia sorrir até dormindo.
então, se você é daqueles que não saberia o que fazer com o dinheiro, ou acha que tanta grana estraga tudo... e se por acaso ganhar... doa pra mim!
e caso você precise de um estímulo pra jogar: faça uma lista se todas as pessoas que você gostaria de mandar tomar no c*.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
motivos: cada um que cuide dos seus
eu não voto em quem coloca propaganda eleitoral pelos canteiros da minha cidade.
nem em candidato que deixa um pilha de "santinhos" na minha caixa de correio.
se eles fazem isto com o próprio dinheiro (ou do partido), imagina o que vão fazer com os meus impostos...
nem em candidato que deixa um pilha de "santinhos" na minha caixa de correio.
se eles fazem isto com o próprio dinheiro (ou do partido), imagina o que vão fazer com os meus impostos...
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
cada uma!
eu sei que tem gente com personal para exercícios físicos, para se vestir, para lidar com dinheiro e por aí a coisa vai. mas, hoje eu li que existe "personal sex". é, eu fiquei no século XX: eu sou da época em que se acreditava em pai e mãe, se aprendia algo na escola, se aprendia muito quebrando a cara e se acreditava no próprio taco.
com tanto personal, deve ser mais divertido ter uma fazenda no orkut e ser dono das próprias vontades.
com tanto personal, deve ser mais divertido ter uma fazenda no orkut e ser dono das próprias vontades.
terça-feira, 27 de julho de 2010
mergulho
de repente ela me olha no meio da hidroginásica e me pergunta:
- por que tu vens todos os dias? quer perder peso?
- sim, quero perder tudo que dá.
- ela continua: eu também. eu faço porque já tenho idade e tô deste tamanho. tenho pavor de pensar que quando morrer não vou entrar no caixão. imagina. fico pensando se vão me cortar no meio e usar dois caixões.
- eu deixei escapar: crédo!
- ela convicta: por acaso tu achas que não vais morrer?
- claro que eu vou, até penso nisto, mas não me fixo no caixão.
- ela não dá trégua: é porque tu AINDA cabes no caixão. e olha, vamos parar de conversa e vamos retomar o ritmo!
eu tô até agora retomando os meus motivos.
- por que tu vens todos os dias? quer perder peso?
- sim, quero perder tudo que dá.
- ela continua: eu também. eu faço porque já tenho idade e tô deste tamanho. tenho pavor de pensar que quando morrer não vou entrar no caixão. imagina. fico pensando se vão me cortar no meio e usar dois caixões.
- eu deixei escapar: crédo!
- ela convicta: por acaso tu achas que não vais morrer?
- claro que eu vou, até penso nisto, mas não me fixo no caixão.
- ela não dá trégua: é porque tu AINDA cabes no caixão. e olha, vamos parar de conversa e vamos retomar o ritmo!
eu tô até agora retomando os meus motivos.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
dias de férias
vou ter uns poucos dias de férias.
não tenho planos de viagens ou grandes feitos.
meus planos são simples simples simples e me fazem extremamente feliz:
acordar sem despertador, tomar chá no meio da tarde, nadar na piscina térmica do clube, alguns filmes, reler alguns trechos, conversar com a minha mãe, caminhar no sol, testar alguma receita.
minha felicidade sempre é feita de coisas pequenas.
ter tempo para as coisas que gosto sem ficar de olho no relógio é meu infinito particular.
não tenho planos de viagens ou grandes feitos.
meus planos são simples simples simples e me fazem extremamente feliz:
acordar sem despertador, tomar chá no meio da tarde, nadar na piscina térmica do clube, alguns filmes, reler alguns trechos, conversar com a minha mãe, caminhar no sol, testar alguma receita.
minha felicidade sempre é feita de coisas pequenas.
ter tempo para as coisas que gosto sem ficar de olho no relógio é meu infinito particular.
terça-feira, 13 de julho de 2010
produzido na Oficina Literária da Laura
O Papagaio Alemão
Ela foi uma criança adulta e diferente das outras, não nasceu sozinha. Antes dela ser invadida pelo mundo, nasceu seu irmão gêmeo. Para o pai, cada um era miúdo como um saquinho de leite. Ele cresceu malandro e ela séria, para não dizer brava.
Não se sabe qual a primeira palavra dita por eles, mas o primeiro verbo foi "dividir". Nos aniversários, os dois sopravam com tanta fúria a vela do bolo para ver quem a apagava de fato que um dia a mesa comprida da festa veio abaixo. O pai dividia os chocolates com a régua. Contavam as lajotas na hora de varrer a garagem, a sujeira amontoada na lajota ímpar. Mas, ímpar mesmo foi a idéia da mãe: dividir uma caixa de lápis de cor. A menina ficou um ano letivo inteiro sem desenhar o sol. E ele perdeu todos os lápis que lhe couberam.
Mas, houve um dia em que saíram da gaiola do egoísmo: juntos pegaram (com um alçapão), nos fundos da casa, um papagaio. Dividiram a alegria sem régua.
Passaram a tarde falando com o pássaro, que não deu asas à alegria deles. Cantaram desde "Atirei o pau no gato", até as músicas do "Balão Mágico".
- Será que ele é surdo?
- Pode ser que é mudo.
- Acho que ele não fala porque a gente não fica quieto. Não dá tempo, coitado!
Ficaram quietos por uns instantes.
- Ele insistia: "Rico", "Quer café?".
- Ela embravecia: se é para dizer bobagem melhor que seja mudo.
O pai chegou em casa e as crianças voaram para mostrar o seu tesouro.
O pai e a mãe tentaram e a menina enfurecida já pensava em cutucar o bicho com o garfo. Se não falasse por bem que gritasse de medo.
A noite veio e o sonho ainda não se enjaulava, as crianças espiavam a cada pouco o bicho na gaiola.
De manhã cedo, o pai reclamou alguma coisa em alemão. Foi como se a língua do bicho criasse asas. Nunca mais calou a bico. Mas, as crianças não compreenderam nada.
Muito satisfeito, o pai disse: - E ainda por cima ele sabe falar alemão!
- É mesmo, tu só podia ter pego um bicho torto. Disse a menina ao irmão.
- Ao menos ele fala, respondeu o menino.
- É, fala, mas não com a gente.
Não seria a primeira vez que a menina sentiria o mundo amputado de suas entranhas. Era a segunda vez que sabia a cor do sol, mas lhe faltava o amarelo.
Não demorou muito para o papagaio começar a berrar pelo "Zeca", que um dia apareceu e junto com ele bateu asas.
Desde cedo a menina aprendeu que as ironias da vida eram piores que os castigos do pai.
Ela foi uma criança adulta e diferente das outras, não nasceu sozinha. Antes dela ser invadida pelo mundo, nasceu seu irmão gêmeo. Para o pai, cada um era miúdo como um saquinho de leite. Ele cresceu malandro e ela séria, para não dizer brava.
Não se sabe qual a primeira palavra dita por eles, mas o primeiro verbo foi "dividir". Nos aniversários, os dois sopravam com tanta fúria a vela do bolo para ver quem a apagava de fato que um dia a mesa comprida da festa veio abaixo. O pai dividia os chocolates com a régua. Contavam as lajotas na hora de varrer a garagem, a sujeira amontoada na lajota ímpar. Mas, ímpar mesmo foi a idéia da mãe: dividir uma caixa de lápis de cor. A menina ficou um ano letivo inteiro sem desenhar o sol. E ele perdeu todos os lápis que lhe couberam.
Mas, houve um dia em que saíram da gaiola do egoísmo: juntos pegaram (com um alçapão), nos fundos da casa, um papagaio. Dividiram a alegria sem régua.
Passaram a tarde falando com o pássaro, que não deu asas à alegria deles. Cantaram desde "Atirei o pau no gato", até as músicas do "Balão Mágico".
- Será que ele é surdo?
- Pode ser que é mudo.
- Acho que ele não fala porque a gente não fica quieto. Não dá tempo, coitado!
Ficaram quietos por uns instantes.
- Ele insistia: "Rico", "Quer café?".
- Ela embravecia: se é para dizer bobagem melhor que seja mudo.
O pai chegou em casa e as crianças voaram para mostrar o seu tesouro.
O pai e a mãe tentaram e a menina enfurecida já pensava em cutucar o bicho com o garfo. Se não falasse por bem que gritasse de medo.
A noite veio e o sonho ainda não se enjaulava, as crianças espiavam a cada pouco o bicho na gaiola.
De manhã cedo, o pai reclamou alguma coisa em alemão. Foi como se a língua do bicho criasse asas. Nunca mais calou a bico. Mas, as crianças não compreenderam nada.
Muito satisfeito, o pai disse: - E ainda por cima ele sabe falar alemão!
- É mesmo, tu só podia ter pego um bicho torto. Disse a menina ao irmão.
- Ao menos ele fala, respondeu o menino.
- É, fala, mas não com a gente.
Não seria a primeira vez que a menina sentiria o mundo amputado de suas entranhas. Era a segunda vez que sabia a cor do sol, mas lhe faltava o amarelo.
Não demorou muito para o papagaio começar a berrar pelo "Zeca", que um dia apareceu e junto com ele bateu asas.
Desde cedo a menina aprendeu que as ironias da vida eram piores que os castigos do pai.
domingo, 11 de julho de 2010
das nomenclaturas
aos meus ouvidos (e também musicalmente falando) o termo "sertanejo universitário" soa como "desmatamento ecológico".
mas, como disse Carpinejar: a verdade não existe. o que existe é uma versão convincente.
mas, como disse Carpinejar: a verdade não existe. o que existe é uma versão convincente.
terça-feira, 6 de julho de 2010
vida doméstica
não, não abandonei o blog.
ainda não.
ando perdida dentro de casa: domesticamente falando eu sou um freio de mão puxado.
uma pia de louça me custa horas, fazer um bolo me toma uma noite, no supermercado eu só tenho vontade de ir logo embora.
e me deixam engasgada estas palavras que nunca param de vir... e eu tão sem tempo de libertá-las. uma prisão!
e não, não passa.
sempre tem mais louça, mais roupa e a comida da geladeira acaba.
e eu também, me acabo.
ainda não.
ando perdida dentro de casa: domesticamente falando eu sou um freio de mão puxado.
uma pia de louça me custa horas, fazer um bolo me toma uma noite, no supermercado eu só tenho vontade de ir logo embora.
e me deixam engasgada estas palavras que nunca param de vir... e eu tão sem tempo de libertá-las. uma prisão!
e não, não passa.
sempre tem mais louça, mais roupa e a comida da geladeira acaba.
e eu também, me acabo.
sábado, 26 de junho de 2010
Saramago
"De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos." (Saramago)
domingo, 20 de junho de 2010
definitivamente eu não faço parte do mundo futebolístico.
mas, eu acho graça e sempre aprendo alguma coisa.
hoje - por exemplo - aprendi que o triceps é considerado mão.
no começo do jogo perguntei o nome da bola, no meio do jogo descobri as vuvuzelas e no final já estava chamando a bola de "jujulane", para a risada de todos.
digam o que disseram: foi uma vitória!
sexta-feira, 14 de maio de 2010
extratos II
Tem um menino que perdeu a mãe no fim do ano passado.
Quando ele vem à biblioteca com a gola torta, os cadarços mal enfiados nos buraquinhos do tênis eu me reparto em mil.
E o olho dele sempre tem uma tristeza funda. Tão funda quem nem um olho de vidro iria driblar.
De tanto não saber para onde olhar.
De tanto doer sem curativo.
De tanto eu saber dele sem ele saber que eu sei.
Agora eu contrabandeio/sequestro/furo fila com todos os livros mais procurados pela turma dele. Todos sempre estão na vez dele. Eu invento. Me perco. Alguns até xingam. Mas de vez em quando ele sorri pra mim.
Eu faço as minhas pequenezas para a grandeza da vida não me matar.
Quando ele vem à biblioteca com a gola torta, os cadarços mal enfiados nos buraquinhos do tênis eu me reparto em mil.
E o olho dele sempre tem uma tristeza funda. Tão funda quem nem um olho de vidro iria driblar.
De tanto não saber para onde olhar.
De tanto doer sem curativo.
De tanto eu saber dele sem ele saber que eu sei.
Agora eu contrabandeio/sequestro/furo fila com todos os livros mais procurados pela turma dele. Todos sempre estão na vez dele. Eu invento. Me perco. Alguns até xingam. Mas de vez em quando ele sorri pra mim.
Eu faço as minhas pequenezas para a grandeza da vida não me matar.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
extratos
a menina dos cabelos vermelhos voltou.
foi. sofreu. voltou.
reconheci ela de costas,- pelos cabelos - e demorei alguns segundos para ter coragem de olhar para o seu rosto. tinha medo que a alegria pudesse ter desbotado.
mas, como um puro sangue, ela ainda tem os olhos felizes.
ela acredita.
eu acho tão bonito.
tomara que nada mais gele os cabelos de puro fogo dela.
tomara que antes de qualquer adulto fechar uma mala, abrir uma janela e comprar uma passagem se lembre que os sonhos da menina estão naquela única pessoa que lhe dá segurança e não nas estradas da vida.
seu sorriso colorido embaixo dos seus cabelos ruivos gritam que ela prefere ter em quem ficar do que um lugar para onde ir. tomara quem eles escutem o seu grito também.
foi. sofreu. voltou.
reconheci ela de costas,- pelos cabelos - e demorei alguns segundos para ter coragem de olhar para o seu rosto. tinha medo que a alegria pudesse ter desbotado.
mas, como um puro sangue, ela ainda tem os olhos felizes.
ela acredita.
eu acho tão bonito.
tomara que nada mais gele os cabelos de puro fogo dela.
tomara que antes de qualquer adulto fechar uma mala, abrir uma janela e comprar uma passagem se lembre que os sonhos da menina estão naquela única pessoa que lhe dá segurança e não nas estradas da vida.
seu sorriso colorido embaixo dos seus cabelos ruivos gritam que ela prefere ter em quem ficar do que um lugar para onde ir. tomara quem eles escutem o seu grito também.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
minha pequena lista de grandes invejas
Invejoso
Arnaldo Antunes
O carro do vizinho é muito mais possante
E aquela mulher dele é tão interessante
Por isso ele parece muito mais potente
Sua casa foi pintada recentemente
E quando encontra o seu colega de trabalho
Só pensa em quanto deve ser o seu salário
Queria ter a secretária do patrão
Mas sua conta bancária já chegou no chão
Na hora do almoço vai pra lanchonete
Tomar seu copo d'água e comer um croquete
Enquanto imagina aquele restaurante
Aonde os outros devem estar nesse instante
Invejoso
Querer o que é dos outros é o seu gozo
E fica remoendo até o osso
Mas sua fruta só lhe dá caroço
Invejoso
O bem alheio é o seu desgosto
Queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
Depois você caminha até a academia
Sem automóvel e também sem companhia
Queria ter o corpo um pouco mais sarado
Como aquele rapaz que malha do seu lado
E se envergonha de sua própria namorada
Achando que os amigos vão fazer piada
Queria uma mulher daquelas de revista
Uma aeromoça, uma recepcionista
E quando chega em casa liga a tevê
Vê tanta gente mais feliz do que você
Apaga a luz na cama e antes de dormir
Fica pensando o que fazer pra conseguir
Invejoso
Querer o que é dos outros é o seu gozo
E fica remoendo até o osso
Mas sua fruta só lhe dá caroço
Invejoso
O bem alheio é o seu desgosto
Queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
________________________________________
Eu invejo quem não leva trabalho para casa, quem come e não engorda, que trabalha menos e ganha mais dinheiro, quem não fica esperando nas filas da vida, quem diz que vai fazer e esquece, quem não tem horário, quem pega uma cor com facilidade, quem sabe tocar um instrumento musical, quem sabe línguas...
Arnaldo Antunes
O carro do vizinho é muito mais possante
E aquela mulher dele é tão interessante
Por isso ele parece muito mais potente
Sua casa foi pintada recentemente
E quando encontra o seu colega de trabalho
Só pensa em quanto deve ser o seu salário
Queria ter a secretária do patrão
Mas sua conta bancária já chegou no chão
Na hora do almoço vai pra lanchonete
Tomar seu copo d'água e comer um croquete
Enquanto imagina aquele restaurante
Aonde os outros devem estar nesse instante
Invejoso
Querer o que é dos outros é o seu gozo
E fica remoendo até o osso
Mas sua fruta só lhe dá caroço
Invejoso
O bem alheio é o seu desgosto
Queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
Depois você caminha até a academia
Sem automóvel e também sem companhia
Queria ter o corpo um pouco mais sarado
Como aquele rapaz que malha do seu lado
E se envergonha de sua própria namorada
Achando que os amigos vão fazer piada
Queria uma mulher daquelas de revista
Uma aeromoça, uma recepcionista
E quando chega em casa liga a tevê
Vê tanta gente mais feliz do que você
Apaga a luz na cama e antes de dormir
Fica pensando o que fazer pra conseguir
Invejoso
Querer o que é dos outros é o seu gozo
E fica remoendo até o osso
Mas sua fruta só lhe dá caroço
Invejoso
O bem alheio é o seu desgosto
Queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
________________________________________
Eu invejo quem não leva trabalho para casa, quem come e não engorda, que trabalha menos e ganha mais dinheiro, quem não fica esperando nas filas da vida, quem diz que vai fazer e esquece, quem não tem horário, quem pega uma cor com facilidade, quem sabe tocar um instrumento musical, quem sabe línguas...
quarta-feira, 21 de abril de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
da série: só pra constar
eu nunca imaginei que eu precisasse TANTO de uma mulher para viver.
faz só duas semanas que a senhora que me ajuda a limpar a casa adoeceu e eu já pensei até em suicídio.
eu me agilizo bem em tanta coisa, mas faxina e supermercado são os meus pontos fracos.
os pontos fortes eu juro que ainda descubro para postar aqui.
faz só duas semanas que a senhora que me ajuda a limpar a casa adoeceu e eu já pensei até em suicídio.
eu me agilizo bem em tanta coisa, mas faxina e supermercado são os meus pontos fracos.
os pontos fortes eu juro que ainda descubro para postar aqui.
personagens criados no sótão
ele e eu
ele carrega mandolates no bolso
tenho os bolsos vazios para ter onde colocar as mãos.
ele come doces
eu conto as calorias.
ele tem fome das coisas que já sonhei
a minha fome faz morada no estômago.
ele tem uma caneta igual a minha
ele vive
eu escrevo.
ele anda de carona com o pai
eu começo a pegar carona comigo mesma.
ele mora numa cidade que pelo nome deveria brilhar
eu moro numa província que me apaga.
ele faz teatro
eu acho graça das cenas da vida.
ela pensou que eu fosse jornalista
eu nunca sei dos fatos, sempre me perco nos detalhes.
ele escreveu que me encontra numa parada de ônibus.
ele parte
eu me reparto.
ele carrega mandolates no bolso
tenho os bolsos vazios para ter onde colocar as mãos.
ele come doces
eu conto as calorias.
ele tem fome das coisas que já sonhei
a minha fome faz morada no estômago.
ele tem uma caneta igual a minha
ele vive
eu escrevo.
ele anda de carona com o pai
eu começo a pegar carona comigo mesma.
ele mora numa cidade que pelo nome deveria brilhar
eu moro numa província que me apaga.
ele faz teatro
eu acho graça das cenas da vida.
ela pensou que eu fosse jornalista
eu nunca sei dos fatos, sempre me perco nos detalhes.
ele escreveu que me encontra numa parada de ônibus.
ele parte
eu me reparto.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
da série: se eu soubesse
ah, se eu soubesse fazer com as mãos o que eu faço com as vírgulas... eu nem precisaria fugir pelas palavras!
o respirador de pó
a senhora que me ajuda com as lides domésticas ficou doente.
de uma para outra a pia encheu, o lixo transbordou, o vaso do banheiro cheirou, as roupas sumiram do guarda-roupa e a comida acabou.
eu que nunca consegui matar uma barata, sem querer suguei uma com o aspirador de pó.
de acordo com as minhas teorias malucas, a barata poderia sobreviver e se reproduzir dentro do meu aspirador.
então, desmontei o bicho, que respirou pó por toda a casa.
o pior da vida real é que ela pode ficar pior. sempre!
a minha falta de vocação doméstica é o pecado que mais me consome.
de uma para outra a pia encheu, o lixo transbordou, o vaso do banheiro cheirou, as roupas sumiram do guarda-roupa e a comida acabou.
eu que nunca consegui matar uma barata, sem querer suguei uma com o aspirador de pó.
de acordo com as minhas teorias malucas, a barata poderia sobreviver e se reproduzir dentro do meu aspirador.
então, desmontei o bicho, que respirou pó por toda a casa.
o pior da vida real é que ela pode ficar pior. sempre!
a minha falta de vocação doméstica é o pecado que mais me consome.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Lá do blog da Fal
Eu choro, sabe, eu choro porque a dor não me deixa respirar e mesmo assim eu respiro fundo e solto o ar em oito tempos, como nos exercícios da aula de canto, enquanto bato claras em neve e meço a quantidade de leite para o suflê, enquanto ralo o queijo ou penduro a roupa no varal, enquanto misturo as tintas, enquanto lavo os pincéis. Choro porque sou impotente, porque tudo posso. Eu choro quase sempre, quase o tempo todo, porque o humano que há em mim se atira do parapeito e não há volta. Mas eu volto, todas as vezes. Todos os dias.
http://www.dropsdafal.blogbrasil.com/
http://www.dropsdafal.blogbrasil.com/
Dias Santos
houve uma época(remota) na qual a sexta-feira santa era santa.
foi nesta época em que questionei pela primeira vez a bondade de deus.
como podia haver um dia sem aula e ao mesmo tempo sem biclicleta, brincadeiras e sanduíche de mortadela?!?
foi nesta época em que questionei pela primeira vez a bondade de deus.
como podia haver um dia sem aula e ao mesmo tempo sem biclicleta, brincadeiras e sanduíche de mortadela?!?
Incontrolável
Eu amo e odeio as coisas que não controlo.
Amo porque me sinto viva.
Odeio porque a culpa cristã e a educação alemã fazem parte dos meus fantasmas.
No meu lado B consta uma indiscrição incontrolável.
Mais forte que eu.
A qual eu sirvo sempre.
Não posso ver alguém lendo um livro. Preciso saber o título.
Se alguma coisa chama a minha atenção, o meu olho gruda. Mergulho e não volto mais.
(Às vezes até escuto o "pára de olhar" da minha mãe. Mas, daí meu olho já virou chiclé...)
(Nunca me diga: "não olha agora". Se disser eu saco os óculos na mesma hora!)
E aquelas pessoas que te confessam um absurdo esperando um apoio?
Aquela expressão de "peloamordedeuscriatura" fica ali estampada na minha cara.
Eu me esforço.
Eu digo alguma coisa para despistar. Mas, em segundos a pessoa já está se justificando sem parar e eu sei que a minha cara tá berrando as coisas que eu não deveria dizer.
Eu nunca deveria dispensar os óculos escuros.
Mas, eu tenho miopia.
Eu queria saber pensar em voz baixa.
Ninguém pode imaginar o quanto se sente nua uma pessoa indiscreta.
sábado, 27 de março de 2010
charme feminino
já teve fases em que achei que o charme da mulher estava na sua postura. outras épocas no seu perfume. já acreditei até nos acessórios.
mas, depois de assistir a alguns pequenos trechos do BBB10, eu tenho certeza: o charme de uma mulher está no seu silêncio.
(é, eu vou calar mais a boca!)
mas, depois de assistir a alguns pequenos trechos do BBB10, eu tenho certeza: o charme de uma mulher está no seu silêncio.
(é, eu vou calar mais a boca!)
sábado, 20 de março de 2010
Muito prazer, meu nome é otário
Dom Quixote
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger / Paulo Gauvão
Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
Peixe fora d\'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça
Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra,
Vaidades que a terra um dia há de comer.
\"Ás\" de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário.
Muito prazer me chamam de otário
Por amor às causas perdidas.
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger / Paulo Gauvão
Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
Peixe fora d\'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça
Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra,
Vaidades que a terra um dia há de comer.
\"Ás\" de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário.
Muito prazer me chamam de otário
Por amor às causas perdidas.
copiei lá do blog da Fall
Pequena lista de grandes medos
"Teus medos tinham coral e praias e arvoredos"
(Fernando Pessoa)
Eu tenho medo de:
coisas de garrafa pet reciclada; crochê; toalhinhas de plástico tipo renda; coisas de gesso e de biscuit; "objetos" de jornal reciclado e envernizado; pregos não enferrujados; facas enferrujadas; gnomos de jardim; cachorro bravo (e grande); flores de plástico; cachorro de camurça de colocar no carro e que fica balançando a cabeça; borboleta e mariposa; nossa senhora aparecida sem cabeça; braços e pernas de ex-votos; cores marrom e cinza; broca de dentista; brinquedos de playcenter; caminhão desgovernado; esportes radicais; peruca de nobre francês (de inglês também); comida verde; boca banguela mascando chiclete; quadro de jesus com coração exposto lágrimas e suor de sangue e coroa de espinhos; tirar mandi do anzol; gatos, cobras e coelhos albinos; óleo de fígado de bacalhau; senhor scott da emulsão do bacalhau; cavanhaque e sobrancelhas grossas formando taturanas; pelos no nariz e orelha; mártires quando estavam - ou estão - vivos; carneirão de chifres enrolados; rebanho de ovelhinhas mudas pastando olhando pra baixo sem ver nada; música carneirinho carneirão, olhai pro céu, olhai pro chão; manada de porcos devoradores de pés humanos (e do resto também); anjinhos nordestinos, aqueles olhinhos vidrados, aquelas roupinhas e asas azuis e brancas de cetim e renda (talvez as roupinhas sejam pra procissão, não pro enterro, o que não difere), parece cena de auto do suassuna, livro da cachorra baleia, filme de severina... tenho medo de boneca de porcelana, de olhos vidrados de bonecas de porcelana; jardinzinho florido e bem cuidado, sebe inglesa; as bailarinas do degas também são um pavor. medo medo medo. de mim. Mas não tenho medo do corvo do poe nem da virginia woolf... eu tenho medo de placas de bronze em sinagogas, escrito "lembre-se de"; tenho medo de bifes de fígado, verdes depois de um tempo; bolinho de miolo; buchada com gosto de toalha de banho felpuda; de sandálias altíssimas de plataforma; bota de bandeirante; uniforme de escoteiro; botox no rosto deformado; xuxa, adriane galisteu, hebe camargo, luciana gimenez; música sertaneja; perna peluda; cabeça com bobbies. Bobbies sem cabeça.
Eloisa Helena Maranhão
"Teus medos tinham coral e praias e arvoredos"
(Fernando Pessoa)
Eu tenho medo de:
coisas de garrafa pet reciclada; crochê; toalhinhas de plástico tipo renda; coisas de gesso e de biscuit; "objetos" de jornal reciclado e envernizado; pregos não enferrujados; facas enferrujadas; gnomos de jardim; cachorro bravo (e grande); flores de plástico; cachorro de camurça de colocar no carro e que fica balançando a cabeça; borboleta e mariposa; nossa senhora aparecida sem cabeça; braços e pernas de ex-votos; cores marrom e cinza; broca de dentista; brinquedos de playcenter; caminhão desgovernado; esportes radicais; peruca de nobre francês (de inglês também); comida verde; boca banguela mascando chiclete; quadro de jesus com coração exposto lágrimas e suor de sangue e coroa de espinhos; tirar mandi do anzol; gatos, cobras e coelhos albinos; óleo de fígado de bacalhau; senhor scott da emulsão do bacalhau; cavanhaque e sobrancelhas grossas formando taturanas; pelos no nariz e orelha; mártires quando estavam - ou estão - vivos; carneirão de chifres enrolados; rebanho de ovelhinhas mudas pastando olhando pra baixo sem ver nada; música carneirinho carneirão, olhai pro céu, olhai pro chão; manada de porcos devoradores de pés humanos (e do resto também); anjinhos nordestinos, aqueles olhinhos vidrados, aquelas roupinhas e asas azuis e brancas de cetim e renda (talvez as roupinhas sejam pra procissão, não pro enterro, o que não difere), parece cena de auto do suassuna, livro da cachorra baleia, filme de severina... tenho medo de boneca de porcelana, de olhos vidrados de bonecas de porcelana; jardinzinho florido e bem cuidado, sebe inglesa; as bailarinas do degas também são um pavor. medo medo medo. de mim. Mas não tenho medo do corvo do poe nem da virginia woolf... eu tenho medo de placas de bronze em sinagogas, escrito "lembre-se de"; tenho medo de bifes de fígado, verdes depois de um tempo; bolinho de miolo; buchada com gosto de toalha de banho felpuda; de sandálias altíssimas de plataforma; bota de bandeirante; uniforme de escoteiro; botox no rosto deformado; xuxa, adriane galisteu, hebe camargo, luciana gimenez; música sertaneja; perna peluda; cabeça com bobbies. Bobbies sem cabeça.
Eloisa Helena Maranhão
sábado, 13 de março de 2010
sem saída
para amenizar um tanto da minha culpa diante do fato de eu ser tão pouco ecológica, tinha decidido doar meu corpo para estudos (após a morte, claro).
seria uma cova a menos no mundo e um cadáver a mais a dispoção da ciência - a mãe dos ecologistas.
mas, descobri que a ciência só quer corpos pequenos (até 1,50m e até 50kgs). facilita o manuseio.
fiquei espantada: nem morta eu terei as medidas esperadas!
só viva poderei me redimir.
é, até a morte tem destas coisas que achava que faziam parte só da vida.
seria uma cova a menos no mundo e um cadáver a mais a dispoção da ciência - a mãe dos ecologistas.
mas, descobri que a ciência só quer corpos pequenos (até 1,50m e até 50kgs). facilita o manuseio.
fiquei espantada: nem morta eu terei as medidas esperadas!
só viva poderei me redimir.
é, até a morte tem destas coisas que achava que faziam parte só da vida.
quarta-feira, 3 de março de 2010
dos arrependimentos
eu li em algum lugar alguma coisa mais ou menos assim:
quem diz que só se arrepende do que não fez ou não tem memória ou não tem noção do ridículo.
(claro que eu me arrependo de umas tantas coisas, senão não tinha copiado a ideia e postado aqui)
- como é triste escrever "ideia" sem acento -
quem diz que só se arrepende do que não fez ou não tem memória ou não tem noção do ridículo.
(claro que eu me arrependo de umas tantas coisas, senão não tinha copiado a ideia e postado aqui)
- como é triste escrever "ideia" sem acento -
domingo, 28 de fevereiro de 2010
domingo
às vezes aos domingos eu tento ser adulta e tirar a camiseta velha de dormir antes da hora do almoço.
é bem nestes dias que ao almoçar eu me babo toda.
é bem nestes dias que tem alguma coisa com molho de tomate ou extrato de tomate.
eu fiquei pesquisando e olhando os terremotos.
faz tempo que eu não tremo, nem por coisas boas e nem por coisas ruins.
(não, não é lamento. são escolhas. até quando não sei, mas são escolhas.)
separei os uniformes para voltar a trabalhar.
na mesma hora o nei lisboa cantava aquela música dos engenheiros: "toda forma de conduta se transforma numa luta armada".
agora, faço hidroginástica nos finais de semana também.
quase sempre sozinha.
aproveito para afogar as minhas ideias furadas.
sim, eu vi, li e fui avisada sobre os meus erros de digitação em vários posts... (mas, falta paciência de me reler e corrigir... )
é bem nestes dias que ao almoçar eu me babo toda.
é bem nestes dias que tem alguma coisa com molho de tomate ou extrato de tomate.
eu fiquei pesquisando e olhando os terremotos.
faz tempo que eu não tremo, nem por coisas boas e nem por coisas ruins.
(não, não é lamento. são escolhas. até quando não sei, mas são escolhas.)
separei os uniformes para voltar a trabalhar.
na mesma hora o nei lisboa cantava aquela música dos engenheiros: "toda forma de conduta se transforma numa luta armada".
agora, faço hidroginástica nos finais de semana também.
quase sempre sozinha.
aproveito para afogar as minhas ideias furadas.
sim, eu vi, li e fui avisada sobre os meus erros de digitação em vários posts... (mas, falta paciência de me reler e corrigir... )
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
ainda
ainda uso um celular que não tira foto e não toca música.
ainda chego sempre na hora marcada. (se somar todas os minutos, horas e dias que passei esperando, somam-se anos!)
ainda mando mail como se fosse carta e não repasso pela internet os benefícios da soja ou da linhaça.
ainda me sinto melhor mergulhando do que voando.
ainda não desisti da minha bunda.
ainda não pintei os cabelos.
ainda não usei OB.
ainda tomo clight.
ainda não me pesei pelda na balança nova da minha mãe.
ainda tenho um cachorro imaginário.
ainda adoro abacaxi e nunca soube comprá-los.
ainda não aprendi a comer pela manhã.
ainda não sou o suficientemente ecológica.
ainda coloco papel no banheiro e água na jarra.
ainda odeio mercado com todas as minhas forças.
ainda adoro água de qualquer forma: piscina, mar, rio, toneira, mangueira, chuveiro...
ainda, suar me causa aflição.
ainda sou fascinada pelo dr. house.
ainda não faço o exame ginecológico anualmente.
ainda não coloquei aparelho nos dentes.
ainda sou desacreditada politicamente e continuo votando no sr. nulo.
às vezes só as minhas entrelinhas me comportam.
ainda chego sempre na hora marcada. (se somar todas os minutos, horas e dias que passei esperando, somam-se anos!)
ainda mando mail como se fosse carta e não repasso pela internet os benefícios da soja ou da linhaça.
ainda me sinto melhor mergulhando do que voando.
ainda não desisti da minha bunda.
ainda não pintei os cabelos.
ainda não usei OB.
ainda tomo clight.
ainda não me pesei pelda na balança nova da minha mãe.
ainda tenho um cachorro imaginário.
ainda adoro abacaxi e nunca soube comprá-los.
ainda não aprendi a comer pela manhã.
ainda não sou o suficientemente ecológica.
ainda coloco papel no banheiro e água na jarra.
ainda odeio mercado com todas as minhas forças.
ainda adoro água de qualquer forma: piscina, mar, rio, toneira, mangueira, chuveiro...
ainda, suar me causa aflição.
ainda sou fascinada pelo dr. house.
ainda não faço o exame ginecológico anualmente.
ainda não coloquei aparelho nos dentes.
ainda sou desacreditada politicamente e continuo votando no sr. nulo.
às vezes só as minhas entrelinhas me comportam.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
documentário
eu sempre me apaixono pelo detalhe.
eu gosto dos bastidores.
eu gosto das pequenezas.
eu adoro aquilo que quase todo mundo é quando não tem ninguém - ou menos pessoas - olhando.
então a dica é: Titãs: A vida até parace uma festa
(ainda mais para quem é fã)
se tem uma coisa boa de ficar velho é rir do passado.
Bolinha. Chacrinha. Gugu. Perdidos na Noite.
a única pessoa que no documentário já era velha e continua velha é a Hebe.
depois que até a Derci morreu, eu desconfio que a Hebe possa estar empalhada...
só pra constar, o meu preferido sempre é o Arnaldo Antunes, sempre e sempre.
e acho graça na cara de quase bandido do Paulo Miklos.
eu gosto dos bastidores.
eu gosto das pequenezas.
eu adoro aquilo que quase todo mundo é quando não tem ninguém - ou menos pessoas - olhando.
então a dica é: Titãs: A vida até parace uma festa
(ainda mais para quem é fã)
se tem uma coisa boa de ficar velho é rir do passado.
Bolinha. Chacrinha. Gugu. Perdidos na Noite.
a única pessoa que no documentário já era velha e continua velha é a Hebe.
depois que até a Derci morreu, eu desconfio que a Hebe possa estar empalhada...
só pra constar, o meu preferido sempre é o Arnaldo Antunes, sempre e sempre.
e acho graça na cara de quase bandido do Paulo Miklos.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
dica de filme: Asas do Desejo
eu não dou boas dicas de filmes.
gosto mais das atmosferas do que dos acontecimentos.
mas, eu gostei muito de "Asas do Desejo".
não sei se eu acredito em anjos, mas eu sempre gosto daqueles que enxergam por alguma ótica diferente da minha.
acredito que nada pode ser mais filosófico do que conceitos diferentes dos meus.
eu quase acredito no que dizem os anjos: (frases copiadas daqui)
"É fantástico viver espiritualmente. Dia após dia testemunhar para a eternidade o que há de puro, de espiritual nas pessoas. Mas às vezes farto-me desta eterna existência de espírito. nessas alturas gostaria de não pairar eternamente. Gostaria de sentir um peso que anulasse a infinidade e me segurasse à Terra. A cada passo ou a cada golpe de vento gostaria de poder dizer: "Agora, agora, agora" e não "desde sempre" ou "para sempre".
"Para se olhar não é lá do alto, é à altura dos olhos."
"A solidão significa: sou finalmente um ser completo."
(sem contar eu que acho linda a estética monocromátima!)
entre o céu e o inferno
a minha mãe perguntou se eu vou para o céu ou para o inferno. acho que tudo vai depender de quem decide.
sinceramente eu mereço um inferno ameno ou um céu modesto: não seria justo eu fazer companhia à Zilda Arns, mas também não seria justo eu dividir as chamas com aqueles que jogaram a filha pela janela, ou com aquele que encheu uma criança de agulhas. muito menos com aqueles que desviam milhões do nosso imposto fazendo tanta gente não ter o básico.
claro que eu tenho meus pecados.
apesar de pecar mais em pensamento.
na verdade, meu crime torto é meu mundo particular.
o mundo vem abaixo e eu fico devaneando com Clarice Lispector, não faltando à aula de natação, tentando acreditar que a minha bunda vai ter dias mais sólidos, acompanhando a inacreditável novela das 8, me encantando com o livro do Saramago.
minha preocupação com a humanidade, não vai muito além de algumas pessoas que eu considero muito. (incluindo sempre os meus alunos)
cada vez eu acredito menos.
menos em tudo.
cada vez mais me habita a consciência da invenção ridícula de tudo isto que chamamos de sociedade.
mas, apesar dos pesares, eu brinco bem na sociedade: eu cumpro ordens que é uma beleza, chego sempre na hora, não fico no vermelho, não visito ninguém sem marcar hora.
claro que tem coisas que eu não consigo: usar salto alto só em ocasiões raras, eu ligo para a minha mãe na hora do almoço, eu tomo banho longos e repasso algumas fofocas...
muitas vezes eu acho a vida uma brincadeira divertida, outras tantas eu acho uma brincadeira caótica e sem graça.
como se nunca chegasse a minha vez de inventar as regras que eu cumpro tão bem.
então, eu não consigo deixar de fugir pelas frestas dos meus livros, músicas, ... o meu "infinito particular", como diria a Marisa Monte.
às vezes eu acho que eu só topo brincar com tanta seriedade porque eu realmente gosto muito de alguns e porque pra mim é mais importante chegar do que ter para onde ir. (apesar de me sentir mais partindo do que chegando)
uma vez alguém me disse que não existia pecadinho e pecadão. que todos eram tamanho único. (eu nunca acreditei em tamanho único, tamanho único é aquilo que não serve em ninguém)
claro que eu acho que existe o pecadinho e o pecadão.
aliás, eu acho que é esta distância imaginária que me salva.
mas, eu não me preocupo muito com o inferno e nem sonho muito com o céu.
acho apenas que a brincadeira continua.
e o meu Deus, sabe que cada que eu faço exatamente aquilo que eu posso.
(sempre gosto de ficar com a minha mãe, vai ver que é por saber que daqui um tempo brincaremos em locais diferentes. ela é daquelas que vai para o céu. eu sou daquelas que Deus vai ter que pensar... - ao menos eu espero que pense!)
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
fim das férias
minhas férias estão chegando ao fim.
foram férias esperadas, pois ano passado passei as férias estudando.
e juro que tenho vontade de voltar à rotina, pena que tão corrida, com tão pouco tempo para alguns pequenos prazeres. mas, tenho saudades. não sei se da ordem. da produtividade. ou de algumas pessoas.
hoje relendo umas anotações de férias, parece que os dias que renderam foram aqueles em que mais fiz arrumações ou queimei mais calorias.
não, não pode ser que eu não consigo ir além da educação alemã ou da culpa cristã.
e as manhãs sem despertador?
a viagem me deixando os olhos virgens?
e o sorvete no sofá com calda de chocolate?
as comidas frescas?
as visitas à minha mãe?
os sonhos?
a biografia da clarice e o livro do saramago?
as caminhadas descompromissadas?
claro que é isto que fica!
claro que eu ainda consigo simplesmente ser e por isto ir além...
sábado, 16 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
solidariedade e seriedade
acredito que o problema nunca é falta de solidariedade, mas sim a falta de seriedade.
é por ESTAS e por outras que eu não consigo acreditar.
fico olhando as imagens pela net, caminho até a geladeira entupida de coisas e volto para ver aquela gente que sofre o inimaginável.
o chão entre a TV e a geladeira me consome.
a moça da TV fala que a Gisele B. já doou 1 milhão e meio de dólares.
muitos doam.
muitos se organizam.
mas, a corrupção sempre é o pior terremoto.
sempre é o que me desacredita de tudo e de quase todos.
(imagens do site TERRA)
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